Eu poderia ter me chamado Maurício. Era o segundo nome da lista que meus pais fizeram antes de eu nascer. Acabou se tornando apenas a promessa de um outro menino que eu acabei não sendo, um jogador reserva que nunca teve a chance de entrar em campo. Meu suplente.
Nasci e cresci Paulo e, às vezes, me vejo pensando se minha vida teria sido muito diferente caso, na hora de fazer meu registro de nascimento, Maurício tivesse vencido a batalha dos nomes e ultrapassado Paulo na reta de chegada, o condenando à condição de promessa não cumprida, ficando em um estado de eterno semi esquecimento.
Quem nunca pensou em nascer de novo? É humano julgar-se refém de um destino, preso a um território restrito, entre o passado, que por vezes é arrastado como uma imensa bola de chumbo de desenho animado, e o futuro, mais curto a cada dia, porém sempre gerador de ansiedades infinitas. Porque, ingenuamente, nos cobramos a obrigação de sermos felizes.
Mal sabemos que a felicidade está nos detalhes, e eles se redesenham o tempo todo. Nunca estão no mesmo lugar. Resta-nos, portanto, o movimento.
Mal sabemos que a felicidade está nos detalhes, e eles se redesenham o tempo todo. Nunca estão no mesmo lugar. Resta-nos, portanto, o movimento.
E tenho certeza que neste mover-se o tempo todo, Maurício de uma certa forma segue existindo, é uma possibilidade de recomeço. Remota, eu sei, mas, ironicamente, onipresente, como se estivesse sempre à espreita, no virar de uma esquina, uma luz que se move no horizonte, como um objeto voador não identificado.