Já é batido repetir o velho papo de que é preciso perceber que há, sim, boa produção musical no Brasil. Fala-se nisso há uns 15 anos, mas ainda há quem diga que a última boa música de rock foi feita nos anos 90. Vamos falar, então, sobre a existência de cabeças, veias e corações pulsantes no Brasil. Sobre aqueles que, nos porões e bares vazios, compõem com a alma e não com o bolso. Sobre aqueles que fazem porque têm algo a falar, caso contrário não fariam.
Vitor Brauer é desses. Ele vem da Lupe de Lupe, uma das bandas mais relevantes do atual cenário alternativo brasileiro, que está em hiato por tempo indeterminado após o grande Quarup (2014). A Lupe de Lupe é, para o rock underground atual, quase o que o Ludovic representou na primeira década do século. Os caras são admirados com razão.
Brauer é uma das cabeças pensantes e, inquieto, não consegue parar com a música. Através de um grupo de fãs que o apoiam, ele lançou duas ideias de projetos musicais e pediu para que as pessoas escolhessem. A que venceu começou a tomar forma e teve a primeira parte lançada no dia 18 de abril, a segunda-feira após o histórico domingo do pela-minha-família-e-pela-minha-mãe-e-pelos-meus-filhos-que-sustento-com-dinheiro-sujo-eu-digo-sim.
Emblemático, então, neste dia Brauer lançar sua coletânea História do Brasil, peça de 52 músicas que será dividida em três partes. Aqui, o músico mineiro fará versões para todo o cancioneiro brasileiro, de Boogarins a Chico Buarque, de forma quase-caseira e acústica. Mais que uma homenagem à música nacional, o disco é uma curadoria. Brauer pode não melhorar muitas das canções originais, mas coloca nelas sua inquietude e faz para o público uma grande seleção do que a de bom nos cantos do país.
Brauer pode não melhorar muitas das canções originais, mas coloca nelas sua inquietude e faz para o público uma grande seleção do que a de bom nos cantos do país.
A primeira parte de História do Brasil é uma curadoria perfeita da produção hardcore, noise e de rock alternativo nos últimos anos por aqui, com bandas pouco conhecidas e que fazem trabalhos de grande qualidade. Tem o rock do Quase Coadjuvante, o experimental da Baleia, o shoegaze do gorduratrans, o psicodélico Boogarins, mais Single Parents, Amandinho, Ventre, Cadu Tenório e tantos outros. E isso é só a primeira parte.
É o lado B da produção musical brasileira, grupo da qual a própria Lupe de Lupe faz parte, agora lançado como uma provocação para o público a conhecer. As canções ganham a cara de Brauer, com seu jeito singular de tocar violão e cantar, que às vezes chega muito perto de declamar as letras ao invés de cantá-las. É um trabalho feito para mostrar que nem só de personagens principais é feita a história.
História do Brasil está disponível de graça na internet. A segunda parte do projeto deve sair em outubro. Escute abaixo.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Para continuar a existir, Escotilha precisa que você assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Se preferir, pode enviar um PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.