Grace and Frankie é uma série fácil de gostar. Com um ótimo elenco e uma história central bastante interessante, a produção é uma comédia leve, que traz reflexões sobre a vida na terceira idade. Porém, a primeira temporada (leia crítica aqui) se perdia em cenas quase que constrangedoras, em uma tentativa falha de fazer rir, ao mesmo tempo que não ia muito bem no drama. Mas havia uma esperança de que, com o tempo, os roteiristas encontrariam o tom.
Dito isso, a segunda temporada é bastante superior à primeira, mas comete os mesmos deslizes em diversos momentos de seus 13 episódios. Mas antes que me joguem bombas através da tela do computador, é preciso entender os bastidores. Grace and Frankie é criada por Marta Kauffman, co-criadora do sucesso eterno Friends. Após 10 anos de uma série lembrada até hoje, Kauffman arriscou alguns projetos na televisão e alguns documentários. Desde o ano passado, se dedica à série da Netflix junto com Howard J. Morris (Eu, a Patroa e as Crianças). Ou seja, os cérebros por trás de Grace and Frankie são viciados no modo tradicional de se fazer comédia.
Ainda que não tenham encontrado o tom, Grace and Frankie continua sendo um ode à vida.
Há alguns plots que funcionam de forma perfeita. Seus quatros principais personagens interagem bastante entre eles, todos estão na casa dos 70 anos e suas vidas sexuais e amorosas são o centro principal de toda trama. Para quem não conhece a série, tudo começa quando dois amigos e parceiros de negócios anunciam às suas respectivas esposas que foram amantes durante 20 anos e agora querem se casar. De forma inteligente, a série fala sobre questões lindas como o amor, a solidão e a amizade após a velhice, assuntos raramente abordados não apenas na televisão norte-americana, mas no mundo todo. Além disso, a série brinca com situações consideradas tabus na terceira idade, como masturbação e namoro após os 70. Suas protagonistas, Jane Fonda e Lily Tomlin, têm uma dinâmica impressionante, e é bastante fácil cair de amores pelas duas. Há uma ligação profunda entre aquelas mulheres.
Mas o grande problema de Grace and Frankie é que não dá para saber se ela é uma comédia tradicional ou segue a cartilha das comédias atuais – mais rápidas e com piadas menos bobinhas. Ao mesmo tempo em que temos momentos bastante inspirados – e o segundo ano entrega boas risadas e reflexões -, temos cenas e diálogos novamente vergonhosos. É quase possível sentir o coração de Friends bater ali. Em diversas cenas, parece que ouviremos risadas ao fundo para que a piada funcione. Quando não funciona, a cena não se encaixa. Isso enfraquece a série para determinada audiência que não consegue mais ficar presa às sitcoms tradicionais, mas ganha força em quem sente saudades de produções mais inofensivas. Ao mesmo tempo, Grace and Frankie guarda momentos poderosos quando realmente reflete sobre a vida após o envelhecer.
Essa bipolaridade da narrativa a prejudica. A segunda temporada começa logo após o encerramento do primeiro ano, quando Frankie (Lily Tomlin) e Sol (Sam Waterston) fazem sexo. A culpa de Sol ameaça o futuro casamento dele com Robert (Martin Sheen), ex-marido de Grace (Jane Fonda). O primeiro episódio entrega exatamente o que qualquer um que já tenha visto mais de uma comédia na vida pode esperar. No momento em que Sol contaria o que aconteceu, Robert tem um enfarte. Após isso, diversos fatos engraçadinhos vão atrasando a resolução da trama. As situações e os diálogos estereotipados, além de não deixarem a série fluir, a faz soar bastante preguiçosa.
Mas para quem gosta do estilo, essas mesmas situações podem não parecer forçadas, mas puramente engraçadas. Com o que todos parecem concordar, entretanto, é que Jane Fonda e Lily Tomlin levam a série nas costas. Enquanto a primeira tenta segurar seu glamour até o máximo – e neste segundo ano ela perde a compostura diversas vezes -, a segunda é uma hippie sentimental que tenta levar a vida na tranquilidade, e garante cenas engraçadas quando também perde o controle (o que lembra bastante a Phoebe, mas isso é assunto para outro texto).
Por fim, o que importa em Grace and Frankie é justamente Grace e Frankie. Na segunda temporada, há mais espaço para os ex-maridos e para os filhos (Brianna, interpretada por June Diane Raphael, protagoniza cenas divertidíssimas), mas a série acerta mesmo quando as duas dividem a tela. As mulheres parecem se divertir tanto em cada cena que acaba sendo contagioso para o público. Não raro você se pega com um sorrisinho no rosto sem nem saber o motivo. Bem além do roteiro, é aí que nos lembramos como as veteranas são excelentes atrizes e comediantes, especialmente Tomlin.
Grace and Frankie, então, continua sendo uma comédia para dias frio e chuvosos, mas há uma sutil evolução deste segundo ano para o primeiro. Os personagens vão sendo pouco a pouco mais bem desenvolvidos e as piadas, quando não fracas, acertam em cheio. Ainda que não tenham encontrado o equilíbrio ideal em sua narrativa, Grace and Frankie continua sendo uma ode à vida e uma delícia de assistir.