Pessoas são como livros, ou paisagens. Exigem um olhar atento, detalhista, e leituras que ultrapassem os limites da superfície e da obviedade. Aprender a ler o outro sempre foi para mim uma missão, um objetivo. Por trabalhar com as palavras, e ter o mundo, a realidade ao meu redor, como matéria-prima, muito cedo me dei conta da importância do que é menos visível, evidente. E passei a buscar pequenos detalhes nos gestos, atitudes, olhares. Com paciência e vontade.
A capacidade de observação e escuta são fundamentais nesse processo de aprendizado, que, creio eu, nunca se encerra, porque as transformações, ainda que sutis, jamais cessam de ocorrer. Vivemos tempos de narcisismo exacerbado, guiados por uma ditadura do eu que beira o patético, e também assusta, porque cega, aliena. Esse tipo de analfabetismo, que nos impossibilita enxergar as pessoas, perceber nuances, filigranas que as tornam únicas, impede que relacionamentos se aprofundem, permitindo julgamentos apressados, e o surgimento de preconceitos, semeados quase sempre na ignorância dessa cegueira um tanto conveniente.
Vivemos tempos de narcisismo exacerbado, guiados por uma ditadura do eu que beira o patético, e também assusta, porque cega, aliena. Esse tipo de analfabetismo, que nos impossibilita enxergar as pessoas, perceber nuances, filigranas que as tornam únicas, impede que relacionamentos se aprofundem, permitindo julgamentos apressados, e o surgimento de preconceitos…
Sempre tive muito apreço por quem fala baixo, com certa lentidão ponderada, abrindo espaço para o diálogo, ainda que em conversas corriqueiras, aparentemente sem importância. Essa generosidade me é sedutora, porque admite a relatividade das certezas, das opiniões enfáticas, dos relatos que se pretendem monológicos.
A mansidão de quem sabe ouvir me seduz, porque denuncia uma sabedoria por vezes instintiva, de alguém que aparenta ter uma alma mais experiente, curtida pelo tempo. Há quem saiba ler o outro, o mundo, por instinto, de nascença. Mas, infelizmente, são exceções. Resta, então, o esforço de desenvolver essa habilidade. Vale a pena.
O mundo precisa muito de quem não enxerga no caminho apenas um meio de se chegar a algum lugar. Necessita dos que distinguem os cantos e a coloração da plumagem dos passarinhos, e enxergam os diferentes tons das folhas e suas texturas, rugosidades, identificando as variações de luminosidade e de temperatura no mundo natural, do qual fazemos parte, com todas as nossas particularidades. Somos comuns e únicos, e esperamos, creio eu, leituras menos apressadas, e mais atentas, generosas.