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Home Crônicas Alejandro Mercado

Foram 33, mas e se fosse apenas 1?

porAlejandro Mercado
2 de junho de 2016
em Alejandro Mercado
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Foram 33, mas e se fosse apenas 1?

"Women, victims or criminals". Ilustração: Gateau.

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Sou apaixonado pela língua portuguesa, porém, sem ufanismos. Não entro em méritos sobre se é a mais completa, a mais romântica ou a mais complexa, apenas a considero um símbolo de minha identidade enquanto brasileiro, um símbolo que admiro. E foi o amor pelo português que me levou a outro, o da análise do discurso, campo da filosofia que analisa construções ideológicas presentes em um texto ou fala, uma espécie de raio-x do que se diz.

Algumas das grandes questões da atualidade partem, justamente, da linguagem e da análise do discurso. Ainda que não seja consenso, são ambos que podem denunciar certas características que não deveriam existir. Os discursos escondem muito mais do que seus locutores verdadeiramente gostariam que soubéssemos.

Há algum tempo, o então recém-empossado Primeiro Ministro do Canadá, Justin Trudeau, foi questionado acerca de sua opção em construir um gabinete dividido equalitariamente entre homens e mulheres. Sua resposta encantou e rodou o mundo: “Ora, porque estamos em 2015”. À época, levantei a necessidade de analisarmos seu discurso, que naquele momento me soava com certos ruídos. Se não estivéssemos em 2015, Trudeau faria de seu ministério um clube do Bolinha? É a época e não a certeza de que somos, homens e mulheres, todos iguais que norteou sua resposta? Para sorte de todos, e um aliviado engano deste cronista, Justin, que não é o Bieber, vem provando que a prática efetivou sua fala.

Qual a diferença no número? Foram 33, mas e se fosse apenas um? A exaltação do número de criminosos que abusaram da jovem garota esconde um lado obscuro de nós, a face oculta da lua do ser humano.

Aqui no Brasil, esta terra onde Vossa Mercê virou vossemecê, que virou vosmecê, que virou vancê, que virou você, mais um triste fato tomou às manchetes dos jornais. E, para meu espanto, vi-me diante de uma enxurrada de bobagens, aquele sopro de chorume que fica impregnado nas teias dessa world wide web.

Na trajetória nefasta deste caminho chamado opinião pública, discutia-se o número de homens que haveriam estuprado uma jovem de 16 anos na cidade do Rio de Janeiro. Pessoas, algumas até bem-intencionadas, chamavam a atenção de seus pares para o absurdo de 33 homens terem cometido este ato horrível e abjeto contra a garota. Inúmeros caracteres foram gastos em refletir a respeito disto. E me veio à cabeça, qual a diferença no número? Foram 33, mas e se fosse apenas um? Crime é crime, não tem escala ou medida. A exaltação do número de criminosos que abusaram da jovem garota esconde um lado obscuro de nós, a face oculta da lua do ser humano.

Fomos traídos pela realidade. Pior, fomos denunciados pela linguagem. Inúmeras vezes. Frases preencheram tweets, postagens no Facebook, blogs e jornais. Muitas delas carregavam consigo o peso de um “mas”. “Mas ela teve um filho aos 13 anos”, “mas ela se drogava”, “mas ela ouvia funk”. Outra vez fomos testemunhas de um linchamento virtual, o esfacelamento de todas as normas que determinam nosso agrupamento em sociedade.

Neste momento, sento e retorno ao meu amor pelo idioma português. Fica claro aos meus olhos como esse arremedo com estruturas e regras próprias, que lhe dão um caráter peculiar, tornou-se refém nas mãos e bocas da sociedade brasileira. Na torpeza de quem o usa, admitimos (mais uma vez!) nosso prazer pela barbárie, a lamentável sombra de uma sociedade que tolera, quando não estimula, a violência contra a mulher.

Nesta sociedade narcisista, que opta em olhar para o “eu” em contraposição ao “nós”, usamos a linguagem para delimitar os grupos aos quais estar à margem é única opção, quando não uma imposição. Banalizamos a violência, exaltando padrões comportamentais e posturas aceitáveis ou não ao outro. Estamos medindo a vida em sociedade por nossa régua curta, demagógica e revanchista, sem qualquer compromisso em respeitar os processos civilizatórios em que deveríamos estar ancorados.

Deixo um exercício aos meus 3 ou 5 leitores. Procure responder: foram trinta e três, mas e se fosse apenas um?

Tags: Crônicacultura do estuproEstuproFeminismomachismomulheresViolência

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