• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Literatura

‘Matteo Perdeu o Emprego’: o que nos define?

Gonçalo M. Tavares é um dos escritores mais interessantes da contemporaneidade e o livro de contos 'Matteo Perdeu o Emprego' é prova disso.

porEder Alex
7 de dezembro de 2016
em Literatura
A A
gonçalo m tavares

Gonçalo M. Tavares. Foto: Divulgação.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Não tive filhos, não escrevi um livro e não me lembro de ter plantado direito uma mudinha de araucária quando estava na quarta série, portanto, para tentar evitar que minha existência acabe em completa nulidade, tento aqui fazer algo que preste para humanidade ao avisá-los: façam um enorme favor a vocês mesmos e leiam Gonçalo M. Tavares.

Não sabia nada sobre o escritor que nasceu em Angola, mas que vive em Portugal, até o dia em que esbarrei com o belíssimo Uma Viagem à Índia, há alguns anos, e fiquei encantado (inclusive já escrevi sobre um outro livro dele aqui). Na época, o que pensei de imediato foi “Como assim um autor contemporâneo consegue escrever de modo a nos fazer relembrar a literatura clássica? E isso tudo numa linguagem límpida, moderna e que jamais resvala no pedantismo?”.

Olha só esses trechos:

“E a religião é encantadora como tudo o que não tem
função particular que possa ser avaliada objectivamente.
O que é vago e abstracto acerta sempre
porque nunca definiu o que é não acertar” (pág. 299)

“É claro que as noivas, cinco minutos antes das
núpcias com 200 convidados, não gostam de
ouvir falar de 100 mil mortos no outro lado
do mundo. Porém, se a desgraça acontecer longe,
ninguém pedirá à orquestra para tocar
mais baixo” (pág. 331)

Foda, né?

Falemos, pois, de Matteo Perdeu o Emprego, lançado em 2013 no Brasil pela editora Foz. Aqui, Gonçalo M. Tavares consegue ser ainda mais impressionante, pois compõe um livro de contos em que todas as histórias estão interligadas em ordem alfabética com base na primeira letra do nome de cada personagem. Primeiramente temos as histórias de Aaronson e Ashley, depois Baumann e Boimann, em seguida Camer e assim por diante até chegarmos ao coitado do Matteo do título.

O livro está repleto de histórias curiosas e impressionantes, como a do homem que recolhe o lixo das ruas, lava cada parte com muito cuidado, inclusive as cascas de banana podre, e depois devolve tudo nas prateleiras do supermercado.

Em Dublinenses, James Joyce utiliza a cidade como elemento de conexão entre as narrativas, já em Matteo Perdeu o Emprego, esta proximidade se dá de maneira mais elaborada e objetiva, porque é constituída tanto pela forma, como no caso das iniciais dos nomes e das representações geométricas (um personagem que corre numa rotatória, pois ao fazer isso “ninguém volta atrás, ninguém se engana, ninguém tem de assumir o erro e fazer inversão de marcha”) , quanto pelo aspecto filosófico da narrativa circular, de eterno retorno a que todos os personagens estão submetidos. A vida segue em frente, mas parece sempre chegar ao mesmo lugar em que começou e no fim das contas, parece que o passado sempre se impõe diante do presente. Afinal, em que se diferem o seguir em frente e o retornar quando o caminho trilhado é sempre o mesmo? A direção é o que nos define?

O livro está repleto de histórias curiosas e impressionantes, como a do homem que recolhe o lixo das ruas, lava cada parte com muito cuidado, inclusive as cascas de banana podre, e depois devolve tudo nas prateleiras do supermercado; ou a história dos dois sujeitos que entram num labirinto tipo aquele do O Iluminado, deixam um trilha de migalhas de pão atrás de si para marcar o retorno, mas acabam se perdendo, pois crianças pobres entram lá e comem tudo.

O inusitado presente nestes enredos (e que leva, com razão, muita gente a comparar Gonçalo M. Tavares ao Kafka) trazem ao mesmo tempo perplexidade e reflexão dada a sabedoria contida a cada linha. E como se tudo isso não fosse o suficiente, ainda temos no terço final do livro um posfácio com pequenos ensaios do autor a respeito de tudo aquilo que acabamos de ler. E se isso te faz gelar de medo pensando que o cara te chamou de retardado e se meteu a explicar a própria obra, pode relaxar, pois o que o que Tavares faz ali, de modo brilhante, é ampliar ainda mais os questionamentos iniciados nas narrativas. Ele acaba por borrar as fronteiras de gênero entre ficção e não-ficção e cria a partir disso uma forma nada convencional de fazer literatura. Olha, tem que ter culhões para arriscar uma coisas dessas.

Sendo um pouco mais direto e acadêmico: esse cara é foda, leiam tudo o que encontrarem dele.

MATTEO PERDEU O EMPREGO | Gonçalo M. Tavares

Editora: Foz;
Tamanho: 159 págs.;
Lançamento: Junho, 2013.

COMPRE O LIVRO E AJUDE A ESCOTILHA

Tags: CríticaCrítica LiteráriaDublinensesEditora FozFranz KafkaGonçalo M. TavaresJames JoyceLiteraturaLiteratura ClássicaLiteratura ContemporâneaLiteratura PortuguesaMatteo Perdeu o EmpregoResenhaReviewUma Viagem à Índia

VEJA TAMBÉM

Autora produziu um dos maiores fenômenos literários das últimas décadas. Imagem: Marcia Charnizon / Divulgação.
Literatura

Por que os leitores amam — e nem toda crítica gosta — de ‘Tudo É Rio’, de Carla Madeira

20 de junho de 2025
Elvis Presley e a pequena Lisa Marie. Imagem: Reprodução.
Literatura

‘Rumo ao Grande Mistério: Memórias’ relata a tragédia de ser filha de Elvis Presley

19 de junho de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

12ª edição começa nesta quarta-feira. Imagem: Divulgação.

8 ½ Festa do Cinema Italiano reúne produções de ontem e hoje

25 de junho de 2025
Imagem de Andy Warhol diante de suas serigrafias. Imagem: Autoral Filmes / Divulgação.

‘Andy Warhol – Um Sonho Americano’ desvenda a origem da genialidade do famoso artista

25 de junho de 2025
Cena de 'Eros', de Rachel Daisy Ellis. Imagem: Reprodução.

Sem pudores, ‘Eros’ aborda a sexualidade brasileira a partir dos motéis

24 de junho de 2025
Adaptação da obra de Margaret Atwood chegou ao fim após seis temporadas. Imagem: MGM Television / Divulgação.

‘The Handmaid’s Tale’ chega ao fim — e deixa um vazio inquietante

24 de junho de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.