Nove músicas, 41 minutos. Simples e direto. O segundo lançamento de estúdio do Led Zeppelin exibiu o auge do estilo de blues que o conjunto britânico fazia. Vitalidade exalando pelos poros. O virtuosismo apresentado pela ainda jovem banda (Robert Plant e John Bonham tinham 21 anos, John Paul Jones 23 e Jimmy Page 25) é de encher os olhos.
Plágios? Homenagens? Apropriações? O que importa é que o Led veio com tudo e entrou para a história com seu segundo disco. Lançado há 48 anos, em outubro de 1969, o álbum foi capaz de barrar Abbey Road, clássico supremo dos Beatles, no topo das paradas de sucesso dos Estados Unidos.
O trabalho foi produzido durante o primeiros meses de 69 na desgovernada atmosfera da banda, que excursionava por América e Europa após a estreia com Led Zeppelin I. Caótica e extravagante, a vida do Zeppelin na estrada proporcionou momentos mágicos nas gravações das faixas, feitas quase todas em diferentes estúdios espalhados pelas cidades em que a banda se apresentava. Muitos dos acordes e melodias presentes no álbum teriam surgido a partir de improvisações e jams sessions que o trio mais habilidoso musicalmente reunido em uma banda na história da humanidade realizava nos shows ou nos intervalos de apresentações.
O disco tem uma cara muito mais crua que seu antecessor. O blues e a pegada embrionária de heavy metal estão igualmente presentes em Led Zeppelin I, mas de uma maneira mais cadenciada e se fazendo valer de tons mais psicodélicos nas canções, dando a elas uma roupagem mais “enfeitada” e menos rústica.
Led Zeppelin II fez o conjunto ficar imerso em brigas judiciais por direitos autorais e uso inapropriado de canções já existentes.
Led Zeppelin II fez o conjunto ficar imerso em brigas judiciais por direitos autorais e uso inapropriado de canções já existentes. A fama do Led Zeppelin como banda “exploradora de coisas já feitas” ganhou corpo com o álbum.
Os herdeiros dos direitos autorais dos trabalhos dos bluesmen Willie Dixon e Howlin’ Wolf moveram processos judiciais contra a banda (todos ganhos pela parte acusadora), o que obrigou o Led Zeppelin a colocar Dixon e Wolf como co-autores de três das nove faixas do disco.
A clássica “Whole Lotta Love” (uma das acusadas de plágio) abre o álbum com orgasmos, solos e exageros, tudo aquilo que viria a caracterizar o rock nos anos 70. Mas, em 1969, o Led Zeppelin já estava lá. Destoando um pouco da linguagem mais crua do resto do álbum, a faixa “usou” o riff inicial de “You Need Love”, de Willie Dixon, e mesclou efeitos e overdubs, remetendo um pouco às faixas do trabalho anterior.
“What I Should Never Be” começa lenta, como um quase folk, mas em seguida a inconfundível batida de John Bonham dá as caras e conduz toda a canção num tom mais pesado, que se alterna com a pegada calma do início. “The Lemon Song” é mais um (são tantos) ponto alto do trabalho.
A faixa é uma releitura de “Killing Floor”, do Albert King, pioneiro e virtuoso do blues e da arte da guitarra elétrica de quem o Led era fã. Com uma linha de baixo de arrepiar, John Paul Jones mostra toda sua habilidade com o instrumento num casamento quase perfeito com a levada de Bonham.
O álbum segue com “Thank You”, balada com ares épicos, e a clássica “Heartbreaker”, onde o vocal de Plant mostra seu amadurecimento e Page brinca de tocar guitarra e sola incansavelmente do meio pro final. “Living Loving Maid” se apresenta como um blues dançante com ares cinquentistas, enquanto a icônica “Ramble On” aposta novamente na dicotomia suave x pesado de folk e heavy metal e surpreende com sua letra meio hippie e aventureira.
“Moby Dick” é Bonham reivindicando para si o posto de maior bateristas da história do rock. As apresentações ao vivo desta faixa são sobrenaturais e soavam animalescas com os longos minutos da performance do baterista, que solava de tudo o que é jeito. Como cereja do bolo, “Bring it Home” encerra com maestria o absoluto Led Zeppelin II.
Novamente com uma ajudinha de Willie Dixon, dono da canção gravada por Sonny Boy Wiliamson II em 1963, a guitarra nervosa de Jimmy Page rompe no meio da faixa que se inicia com uma linda linha melódica da gaita assoprado por Robert Plant.
Depois desse álbum, o Zeppelin se consagrou definitivamente no cenário musical e a fama e o sucesso pelos quatro cantos do mundo bateram à porta do quarteto londrino. Sem os Beatles no caminho, que se separariam ainda em 1970, Page, Plant, Bonham e Jones tinham trajeto livre para tomar o posto de maior banda do planeta terra.
O lançamento seguinte, Led Zeppelin III, se afastou um pouco da ideia de blues dos dois primeiros álbuns. Com uma pegada mais folk e que criou novas bases para o que viria a se chamar heavy metal, o disco conta com clássicos como “Immigrant Song” e “Since I’ve Belong You”. O menos reconhecido de todos os primeiros trabalhos da banda, entretanto, não foi capaz de descredenciar o quarteto no panteão do rock setentista, pois seu sucessor, Led Zeppelin IV, foi o mais exitoso álbum do conjunto, que produziu clássicos eternos como “Stairway to Heaven”; “Rock and Roll” e “Black Dog”.
Led Zeppelin II, no entanto, continua ótimo e fundamental para se analisar a carreira da banda e, principalmente, comprovar como a raiz bluesera, quando bem utilizada, se transforma num grande deleite para os fãs da boa música.
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