Afinal, é possível dissociar o trabalho de um artista de sua visão do mundo? Na verdade, devemos?
O coletivo curitibano Brutas, no caso, mostra sem rodeios ao que veio, apresentando obras pessoais e ligadas à essência de tudo aquilo que vem acontecendo no contexto social ao nosso redor, do que toca ao que incomoda.
Suas visões são claras. Essas cinco artistas mulheres, as brutas, surgiram em 2016 sob o pretexto de que de algo tosco (no sentido etimológico da palavra), bruto, podem nascer infinitas possibilidades.
“Dizer que algo é refinado, lapidado, é como dizer que aquilo já está no final do seu processo. E a nossa ideia sempre foi de que as nossas interações pudessem nos influenciar, nos fazer crescer”, explicam.
O grupo, formado por artistas consolidadas em diferentes vertentes artísticas, nasceu forte em coletivo, tornando-se independente das obras individuais de cada uma.
Essa troca de linguagens, confirmada e endossada pelas integrantes, tem como intuito a experimentação, resultando numa diversidade bastante interessante de obras e pensamentos.
De instalações a publicações independentes e performances, as brutas falam do contexto político-cultural por qual passamos, das angústias nas falhas de comunicação e na falta de diálogo. Trazem também um pouco do dia a dia de cabeças que pensam no cotidiano através da arte.
Segundo as artistas, o processo criativo das brutas perpassa justamente pela vontade de criar em coletivo. “A conversa ocupa grande parte do processo; debatemos muito sobre a prática artística, e é nesse momento que construímos juntas. Sempre juntas”, contam.
Os trabalhos são do grupo, não individuais. “Mesmo assim é possível identificar as singularidades de cada uma nas entrelinhas das obras. Nós criamos conceitualmente juntas, mas cada uma executa o trabalho que mais convém a sua linguagem”.
Como dialogar quando todos estão convictos da verdade?
Para conhecer de perto o trabalho do coletivo e entender como podemos materializar política, conversas e cultura, é fácil. A Galeria Ponto de Fuga exibe a mostra Assuntos Brutos até o dia 2 de dezembro, como parte da programação oficial da Bienal Internacional de Curitiba.
As obras em questão trazem reflexões pertinentes sobre a polarização da sociedade brasileira entre esquerda e direita e a crença entre o bem e o mal.
Como dialogar quando todos estão convictos da verdade? Assuntos Brutos traz uma arte inteligente e necessária, visto seu viés essencialmente político.
Segundo a curadora Milena Costa, as Brutas vêm na contramão dos tempos de monólogos e prosas corriqueiras, convidando para uma reflexão – e está na hora de conhecer.
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