Quem diria que uma das melhores séries adolescentes do ano seria uma animação. Esqueça os dramas de Dawson’s Creek ou as loucuras de Skins, porque Big Mouth, nova série animada da Netflix, [highlight color=”yellow”]consegue uma originalidade rara neste tipo de produção[/highlight]. Trazendo uma honestidade em todos os seus diálogos, a série mostra as delícias e o inferno da puberdade, utilizando elementos lúdicos para expressar o que ninguém consegue quando vive o conturbado período da adolescência.
Com um humor escrachado e absurdo, Big Mouth funciona justamente por não ter filtros. Contando com a liberdade criativa dada pela Netflix, a série solta a imaginação e utiliza diversos elementos politicamente incorretos para colocar em imagens a confusão que é crescer. São várias metáforas que não soam panfletárias, mas que fazem tanto o público adolescente se identificar quanto o adulto relembrar que tudo aquilo realmente ocorre com cada um de nós.
Big Mouth acompanha a descoberta de pré-adolescentes sobre suas mudanças físicas durante a puberdade e mostra como cada um deles lida com sua sexualidade e interesses amorosos. Os dois personagens centrais, Nick e Andrew, são dublados pelos atores Nick Kroll (também criador da série) e John Mulaney. Embora os dois garotos sejam os protagonistas, quem tem as melhores cenas é Jessi (dublada por Jessi Klein), com sua jornada pela descoberta de se tornar uma mulher e todos os desafios e preconceitos que decorrem disso.
A série consegue discutir a sexualidade de maneira muito franca, mesmo quando faz algumas críticas, como o consumo desenfreado de produções pornográficas e os perigos de se fechar num mundo virtual.
[highlight color=”yellow”]Inteligentemente, o humor politicamente incorreto não é ofensivo.[/highlight] Assim, a série consegue discutir a sexualidade de maneira muito franca, mesmo quando faz algumas críticas, como o consumo desenfreado de produções pornográficas e os perigos de se fechar num mundo virtual, acreditando que aquilo visto na tela é o sexo de verdade. Interessante, também, é a forma de falar sobre homossexualidade, quando um dos personagens masculinos fica em dúvida se gosta de meninos ou de meninas. Sem julgamento, a série vai mostrando a confusão de sentimentos e como o início da juventude não é nada simples ou definitivo.
Mesmo apresentando um personagem assumidamente gay de maneira estereotipada, o roteiro brinca com isso o tempo todo, fazendo com o que o público ria com ele. A série ainda utiliza a metalinguagem parar brincar com o público da Netflix, criando um diálogo com o público e conversando com quem está na frente da TV de maneira bastante orgânica.
Mas o mais engraçado é que os roteiristas reúnem as coisas mais vergonhosas da puberdade e as transformam em situações hilárias, como os primeiros pelos, a primeira masturbação, as ereções involuntárias, o primeiro beijo, a mudança de voz e por aí vai. Todas essas experiências parecem ser jogadas apenas para fazer rir, mas fica claro que o autores sabem bem o que estão fazendo. Numa sociedade em que insiste em podar e castrar qualquer sentimento de descoberta que interrompa a dita moral e os bons costumes, [highlight color=”yellow”]é louvável ter uma série que trata tudo isso com normalidade[/highlight], mesmo se utilizando do absurdo.
Big Mouth poderia ser só uma comédia bacana sobre adolescentes para passar o tempo e estaria tudo bem se fosse assim. Mas felizmente a série consegue atingir um nível impressionante e inteligente de comédia para mostrar que crescer dói e é confuso, mas que essa fase de descobertas pode ser incrível.
Trailer de ‘Big Mouth’
https://www.youtube.com/watch?v=gFPkOexwr1c