Os norte-americanos adoram uma série de ação, de tribunal, de hospital, de bombeiro. A receita não muda há anos e nem tem por quê. Em time que se ganha não se mexe, certo? Mas dá para fazer alguns ajustes aqui e ali para apresentar um produto interessante. A nova série da FOX, 9-1-1, tenta fazer isso com um tema central interessantíssimo, mas não consegue disfarçar que é apenas mais do mesmo. Isso não necessariamente é algo ruim se você não estiver esperando nada além de entretenimento, o que a série até faz bem.
9-1-1 é mais uma cria da mente do onipresente Ryan Murphy, que assina a produção junto com seu eterno colega de trabalho Brad Falchuk (ambos responsáveis por American Horror Story e Glee) e Tim Minear. A série explora a pressão de paramédicos, policiais e bombeiros quando precisam fazer grandes resgates ao mesmo tempo em que tentam balancear a profissão com a vida pessoal, sempre conturbada por problemas pesados. Até aí nada novo. Mas o interessante é que a série tenta mostrar o dia a dia dos operadores do 911, número de telefone geral nos Estados Unidos para situações de emergência. É por meio dessas chamadas que os personagens transitam.
O mérito da produção é que tudo funciona bem de certa forma, mas é necessário ignorar diversos furos.
É uma montanha-russa de clichês: tem o bombeiro novinho, bonitão e rebelde que não segue regras e está sempre tentando bancar o herói enquanto faz sexo com quem quiser; tem o bombeiro mais velho com problemas pessoais e um passado misterioso; tem o oficial que nunca é levado muito a sério pelos colegas; tem a mocinha que sacrifica sua vida pela família e vive solitária. Junto disso temos os problemas da semana, como qualquer outra série do gênero. Bombeiros precisam salvar passageiros de um avião que pousou na água, um carrinho de montanha russa que descarrilou, uma cobra de estimação que está sufocando sua dona, policiais precisam resgatar uma criança numa casa que está sendo assaltada. Se você for assistir, é isso que você vai encontrar.
O mérito da produção é que tudo funciona bem de certa forma, mas é necessário ignorar diversos furos. A série lembra um pouco (de longe, mas lembra) o frenético ritmo de ER/Plantão Médico, com diversas situações de emergência no mesmo episódio. A série não foca nos acidentados, mas nos policiais, bombeiros, operadores do serviço de emergência, etc. É fácil perceber o que 9-1-1 quer e para onde ela vai. Já conseguimos sacar que todos os personagens terão um pano de fundo na história com seus dramas pessoais e que nenhum será desperdiçado. A ideia é de fato mostrar como o trabalho influência na vida dessas pessoas e vice-versa.
Como já é comum nas séries de Ryan Murphy, há representatividade em todos os personagens. Negros ocupam cargos altos e importantes (como chefe de polícia, CEO de uma empresa, bombeiro) e não há apenas héteros. A abordagem parece mais do mesmo e tudo é tratado com naturalidade, mas é interessante essa constância nas histórias de Murphy, porque, afinal, ele sabe que sua produção é exibida em televisão aberta e que colocar em foco personagens assim causa reflexão.
O elenco é uma feliz escolha, especialmente Angela Basset, Connie Britton e Peter Krause. Todos são comprometidos com seus papéis e, embora precisem se esforçar com um texto um tanto quanto pobre, eles seguram bem algumas situações exageradas. Até o momento (foram exibidos sete episódios até esta resenha ter sido escrita), a série não escolheu um protagonista, embora Abby (Britton), Athena (Basset) e Bobby (Krause) tenham ganhado histórias mais robustas. Por isso, os roteiristas podem pirar, inventar e produzir material para diversas temporadas.
Com emergências e resgates bastante criativos, 9-1-1 já agradou a audiência, que vem crescendo a cada episódio, e já garantiu uma segunda temporada. Sem muita pretensão, a série é um entretenimento interessante para quem curte histórias com um um pé na realidade. Se você não analisar muito, pode se divertir.