No capítulo do dia 19 da atual novela das nove da Rede Globo, O Outro Lado do Paraíso, após perceber que Amaro (Pedro Carvalho) só queria casar com ela por causa de sua herança, Estela (personagem da atriz anã Juliana Caldas) anunciou que não quer mais saber de se casar e começará uma vida nova trabalhando para ajudar outras pessoas.
“Rosalinda, fui estudar na Suíça, porque minha mãe desejava me ver longe. Depois que voltei, você̂ encheu minha cabeça de sonhos amorosos. Eu estudei tanto para quê? Minha mãe dá dinheiro para viver. Eu não preciso trabalhar para comer. Mas posso ser útil de alguma maneira. Quero botar em prática tudo que aprendi. Darei aulas de alfabetização para adultos. Vou ser útil à sociedade. Mulher nenhuma precisa de marido para ser alguém. Eu tenho vida própria”, esbravejou a personagem. Veja a cena aqui.
Essa mudança na história da personagem pode ser atribuída às muitas críticas que a trama vinha recebendo quanto à maneira que estava abordando o nanismo. Quando a novela estreou, chamou a atenção a quantidade de temas polêmicos que anunciava que iria abordar. Um deles era o preconceito que os anões ainda sofrem na sociedade. Entretanto, Estela vinha se mostrando o oposto de um merchandising social nesse contexto.
Essa mudança na história da personagem pode ser atribuída às muitas críticas que a trama vinha recebendo quanto a maneira que estava abordando o tema nanismo.
Por ação da megera da mãe Sophia (Marieta Severo), ela vive em cárcere quase privado em uma casa ao lado do garimpo da família, junto com a funcionária e única amiga Rosalinda (Vera Mancini) e seu principal passatempo era alimentar nas juras de amor do ex-noivo suas únicas ambições. Ou seja, além de ir contra qualquer incentivo aos portadores de nanismo, conspira também contra as ideologias feministas.
Mesmo tento estudado durante anos, chegando a concluir um doutorado nas melhores escolas da Europa (como foi dito no início da história), a moça se mostrava incapaz de criar sua independência financeira e viver com o mínimo de autossuficiência, sendo mantida pela mãe que a odeia, como se fosse uma Rapunzel, presa à torre à espera do príncipe encantado. Pode haver imagem pior para quem busca a sociabilização? O autor estava errando feio em sua abordagem.
E já que falamos de Walcyr Carrasco, em outro texto para esta coluna havia comentado o fato do dramaturgo se “referenciar” em outras histórias. Sendo assim, ele podia ter se inspirado no exemplo do anão Tyrion Lannister, que rendeu a Peter Dinklage duas estatuetas do Emmy e uma do Globo de Ouro por este seu personagem na série Game of Thrones, da HBO. Seria bem melhor que esta sua péssima ideia original, afinal não seria nada mal à causa dos portadores de nanismo e a quem convive com eles um tiquinho da personalidade de Tyrion no comportamento de Estela.
E se você está se perguntando por que afirmo que a cena de segunda-feira foi devido às críticas dos telespectadores nas redes sociais, explico: no último dia 8, o diretor artístico do folhetim, Mauro Mendonça Filho, andou prestando expediente extra no Twitter e usou o microblog para interagir com telespectadores da novela e responder algumas críticas feitas pelos usuários. “Estela é formada, morou fora, mas virou uma pobre coitada que depende de outra para falar por ela. Ela não teria força e poderia se superar sem ser vitimizada?”, indagou um internauta. E a resposta foi: “Tá todo mundo trabalhando para melhorar isso”.