Mal Blum é mais um dos bons nomes que passaram pela edição 2018 do SXSW. Mal Blum compõe canções engraçadas, ligeiramente inexpressivas, mas nas quais é frequente encontrarmos significados ocultos e outras minúcias mundanas da vida cotidiana: pessoas assistindo televisão, sentindo-se sozinhas, enfim, buscando a palavra certa no momento certo. Suas observações aguçadas transparecem nas faixas de todos os discos e EPs já produzidos: são cinco LPs e um EP, para ser mais exato, tudo em 11 anos de carreira e 29 de vida.
Uma breve conferida em sua obra e logo se descobre como seu senso de humor peculiar se espalha em tudo que faz, dos discos às apresentações no palco, passando por seus perfis em redes sociais. Artista transgênero não-binário, Blum vem há tempos ganhando espaço para falar sobre inúmeros outros assuntos que não apenas sua música – ainda que seu processo criativo seja, volta e meia, motivo de curiosas entrevistas. Além de falar sobre gênero, a saúde mental também é tema recorrente: Blum tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, também conhecido como TDAH ou DDA.
Suas melodias pinçam muitos elementos absorvidos em sua vida, chegando a uma sonoridade que mescla folk, punk e música pop.
Mal Blum entrou na música através da poesia, arte que iniciou ainda na infância e que teve peso preponderante no desenvolvimento de seu estilo e em sua forma criativa, bem como fuga para uma depressão adjacente causada pelo TDAH. Em entrevista após o SXSW do ano passado, fez questão de salientar que a música foi uma forma de salvação. “Eu comecei a escrever músicas quando era criança porque eu precisava de uma saída criativa, porque estava sofrendo, e à medida que envelheço é um processo de descobrir como escrever e criar arte não apenas além de uma necessidade, mas como uma prática cotidiana”, afirmou, antes de confirmar que ainda hoje escreve um poema aqui e ali.
Além de poesia, cresceu tendo como referências artísticas nomes como Billy Joel e Beach Boys, artistas preferidos de sua mãe e seu pai, respectivamente. Suas melodias pinçam muitos elementos absorvidos em sua vida, chegando a uma sonoridade que mescla folk, punk e música pop. São canções que carregam uma carga de intimidade muito grande – um de seus discos, o mais recente, You Look a Lot Like Me (2015), ganhou uma versão em que cada faixa é comentada pelo artista. Em virtude disto, os fãs norte-americanos desenvolveram uma relação de muita proximidade com Blum, visível através de suas calorosas apresentações, uma extensão de seus álbuns, uma espécie de conversa íntima entre amigos, um bate-papo entre confissões de mágoas e medos. Além disso, Blum é muito acessível em suas redes sociais, especialmente no Twitter, onde procura usar sua linha do tempo como um espaço para destilar humor e muita honestidade sobre tudo que concerne sua vida.
Para este ano, Blum veio para a estrada como Mal Blum e os Blums, sua primeira turnê acompanhada de um conjunto completo após um bom período se apresentando solo. É inegável que há um ganho de energia em suas apresentações, que se tornam muito mais vibrantes e divertidas, trocando a vulnerabilidade que algumas canções por vezes passam por uma grande celebração à vida e à alegria.
O conjunto entrou em estúdio na Filadélfia para gravar seu primeiro álbum, uma sensível mudança para quem estava acostumado com a dureza de Nova York. Blum disse que essa mudança representou a possibilidade de relaxar da urgência de sua cidade de origem, algo que certamente se notará em suas canções, algumas inclusive mais suaves. Se tudo que queria quando adolescente era pegar a estrada e ouvir suas músicas diretamente do som do carro, nada mal fazer uma carreira tão meteórica e brilhante como esta.
NO RADAR | Mal Blum
Onde: Nova York, Nova York.
Quando: 2007.
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