“O governo não pode e não vai concordar com minorias com projetos ideológicos irreais”, disse, em 2013, a senadora e Ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sobre a demarcação de terras indígenas. A cena está no documentário Martírio (2017), de Vincent Carelli, retrato profundo da violência colonizadora sofrida pelos povos indígenas pelo estado brasileiro. O filme foi exibido nesta quarta na Mostra de Cinema pela Democracia, que faz parte de uma Virada Cultural que acontece entre os dias 30 de abril e 6 de maio na Praça Santos Andrade e na Vigília Lula Livre.
O fascínio pela cena está em outra fala de Gleisi, agora Presidenta do PT, de que o partido não fará autocrítica para não fortalecer o discurso dos adversários. A tal autocrítica, porém, não escapa aos olhos do cinema. A mostra exibirá filmes de fazer corar até os mais dissimulados integrantes do Partido dos Trabalhadores, e indignar outros mais honestos, de dentro e fora da legenda.
Na missão, com Kadu, de Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito, é uma das obras-primas do cinema nacional exibidas na mostra. O filme é “um retrato particular do maior conflito fundiário urbano da América Latina, na região ocupada da Izidora”, em Belo Horizonte. Sem spoilers, em dado momento do curta, com razões de sobra, o protagonista não poupa xingamentos ao chefe da Polícia Militar e do Poder Executivo Estadual, o Governador petista Fernando Pimentel.
Realizado a partir de um crowdfunding, segundo seus organizadores, a Mostra de Cinema pela Democracia é uma iniciativa de produtores, cineastas, curadores, técnicos e artistas de todas as regiões do país, reunidos de forma voluntária, coletiva e horizontal. “O cinema é um campo de disputas onde se reproduzem e fortalecem conceitos, identidades, princípios e convicções”, diz Alonso Pafyeze, um dos organizadores da mostra. Com projeções numa tela inflável, o evento começou no dia de 30 de abril com o O Processo (2018), de Maria Augusta Ramos, precedido pelo belíssimo curta Poesia na Guerra (2017), de Fernando Salinas e Guilherme Fernandez.
Realizado a partir de um crowdfunding, segundo seus organizadores, a Mostra de Cinema pela Democracia é uma iniciativa de produtores, cineastas, curadores, técnicos e artistas de todas as regiões do país, reunidos de forma voluntária, coletiva e horizontal.
Outro importante momento é a primeira exibição curitibana do longa Nóis por nóis (2018), de Jandir Santin e Aly Muritiba. Gravado na Vila Sabará, na região da Cidade Industrial de Curitiba, o filme “narra a história de quatro amigos com objetivos diferentes durante uma noite em um baile de rap na capital paranaense”. Ainda destaco os curta-metragens Peripatético (2017), de Jessica Queiroz, e Chico (2016), dos Irmãos Carvalho.
Tendo qualquer posicionamento sobre a prisão de Lula, é inegável o valor concreto e simbólico da curadoria. Numa hipotética mostra de cinema a favor do cárcere do ex-presidente, imagino a exibição de filmes como O Jardim das Aflições (Teófilo, 2017), sobre o filósofo Olavo de Carvalho, ou Polícia Federal – A Lei É para Todos (Antunez, 2017). Se a polarização política faz duvidoso o futuro do Brasil, é certo que no cinema os vermelhos tem um gosto muito mais apurado.
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SERVIÇO | Mostra de Cinema pela Democracia
Quinta, dia 03/05 – 19h
> Alma no olho, de Zózimo Bulbul, 1973, 11’
> Escolas em luta, de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli, 2017, 76’
Sexta, dia 04/05 – 19h
> Na missão, com Kadu, de Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito, 2016, 25’
> Linha de montagem, de Renato Tapajós, 1982, 90’
Sábado, dia 05/05 – 19h
> Peripatético, de Jéssica Queiroz, 2017, 15’
> Nóis por nóis, de Aly Muritiba e Jandir Santin, 2018, 100’
Domingo, dia 06/05 – 19h
> Chico, dos Irmãos Carvalho, 2016, 23’
> Joaquim, de Marcelo Gomes, 2017, 102’
Exibições são todas gratuitas. Para mais informações, acesse o link do evento no Facebook.
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