Figura misteriosa e criativa, a escocesa SOPHIE lançou diferentes faixas que iam do bubblegum pop às experimentações eletrônicas e noise. Agora, lança Oil of Every Pearl’s Un-Insides, seu primeiro disco, no qual ela apresenta camadas mais pop e traz um frescor disruptivo ao gênero.
Em 2015, SOPHIE lançou uma compilação de seus singles anteriores, chamado Product, que trazia faixas como a ótima “Lemonade” e “Vyzee”, de sonoridade atrelada ao que chamamos PC Music. Nesse meio tempo, ela também produziu o EP Vroom Vroom, de Charli XCX, junto de A. G. Cook e Hannah Diamond, e acabou trabalhando de forma um tanto quanto constante ao lado de Charli.
Apesar disso tudo, SOPHIE era uma figura desconhecida: ela modificava sua voz em entrevistas, para não deixar claro seu gênero, e nunca expunha seu rosto, tanto que seus DJs set eram praticamente perfomances nas quais ela criava maneiras de não aparecer.
Assumindo-se enquanto uma mulher trans, SOPHIE se mostra pela primeira vez por inteira e vulnerável.
Em outubro de 2017, ela lançou o single “It’s Ok To Cry”, no qual canta sem efeitos em sua voz e mostra pela primeira vez seu rosto. Assumindo-se enquanto uma mulher trans, SOPHIE se mostra pela primeira vez por inteira e vulnerável no clipe. Esse foi um ponto determinante para esse novo rumo na carreira da artista.
“It’s Ok To Cry” é quase uma balada R&B, mais acessível, pop, mesmo assim, possui uma explosão ao seu final, que dá o tom sempre pulsante de SOPHIE. Essa faixa acaba sendo um ótimo cartão de visitas, já que é ela que abre Oil of Every Pearl’s Un-Insides.
Na sequência do disco, já temos outras duas faixas também conhecidas: “Ponyboy” e “Faceshopping”. “Ponyboy” saiu no final de 2017 e é quebradiça, sexual e dançante, no melhor estilo da artista. E “Faceshopping” também segue o mesmo caminho, brincando com texturas e como que quebrando os sons ao meio, criando essa tensão industrial. Ambas são extremamente pop e podem tocar em qualquer balada moderninha.
Oil of Every Pearl’s Un-Insides desenvolve-se de forma múltipla: são 40 minutos em que SOPHIE mescla música eletrônica, R&B, soul, industrial e muito mais, resultando num disco estranhamente complexo e envolvente, em certa medida até romântico.
“Infatuation”, por exemplo, é uma balada romântica sobre compreensão em um relacionamento; a faixa tem toda a força do R&B e funciona quase como um hino gospel. Já “Is It Cold in the Water?”, por exemplo, é uma delicada e dolorosa canção sobre solidão, indo para um universo mais onírico e triste.
Mesmo em sua maioria pop e dançante, é interessante como esse disco de estreia mostra outras facetas de SOPHIE, menos robotizada e mais humana. Há os momentos de fritação no disco, porém tudo é amalgamado na voz delicada e intensa da cantora, que consegue trazer um ar ora vulnerável ora forte em seus tons.
Mesmo com momentos mais experimentais, é possível que as canções pop sejam a porta de entrada para um novo público nesse universo maluco de SOPHIE. “Immaterial”, por exemplo, é super acessível, pois tem cara de eurodance do início dos anos 2000, e pode ser um potencial hit.
De todo modo, Oil of Every Pearl’s Un-Insides pede a nossa audição atenta, pois é um disco que habita nesse paradoxo entre agressividade e delicadeza, pois nos apresenta esse olhar curioso de SOPHIE sobre si mesma e seus sentimentos. No final das contas, ela partiu de seu universo extremamente computadorizado, para criar um disco extremamente real, que dá tanto para dançar com amigos quanto para chorar sozinha.
Esse disco de estreia acaba fazendo jus a todo hype em torno de SOPHIE e a coloca como uma artista fundamental para o futuro do pop.
NO RADAR | SOPHIE
Onde: Glasgow, Escócia;
Quando: 2009;
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