No livro Horror Movies, os pesquisadores Colin Odell e Michelle Le Blanc descrevem os anos noventa como um período “pós-moderno” para o cinema de horror. Depois de passar duas décadas como um dos gêneros mais rentáveis da indústria de entretenimento norte-americana, os filmes de monstros entraram em crise. Títulos artísticos, muitas vezes caros e que misturavam diversos estilos de narrativas passaram a ser tendência na época.
Para os autores, a maior prova dessa pós-modernidade foi o sucesso de Pânico (1995). Escrito por Kevin Williamson, o cultuado longa-metragem de Wes Craven brincava com a própria ideia de uma história de horror, satirizando clichês ao mesmo tempo em que criava novos. O roteiro parecia autoconsciente de sua própria condição cinematográfica, referenciando outras produções como se fizesse parte de uma conversa de bar de cinéfilos.
Prova Final (1998), de Robert Rodriguez, surgiu com a promessa de fazer com as narrativas de ficção científica o que Pânico havia feito com os slashers. O argumento de Bruce Kimmel e David Wechter havia sido concebido anos antes como uma atualização do livro Invasores de Corpos (1955), de Jack Finney, situada numa escola moderna. Quando o filme de Wes Craven fez rios de dinheiro para a Miramax, Bob e Harvey Weinstein (sim, aquele) tiraram o projeto do papel às pressas.
Um dos pontos altos de Prova Final é o elenco. Robert Patrick como o surtado treinador Willis rouba a cena sempre que aparece.
Williamson foi chamado para aparar as pontas, reescrever os diálogos adolescentes e acrescentar mais intertextualidade. A trama acompanha um grupo de alunos desajustados da escola que percebe que os docentes estão se comportando de maneira estranha. O treinador de futebol americano durão passa a agir de forma mais gentil, o professor alcoólatra apenas bebe água e a professora tímida se torna mais agressiva com os estudantes. Depois de testemunhar o que parece ser um assassinato, eles descobrem que o comportamento estranho é parte de uma invasão alienígena.
A paranoia de Vampiros de Almas (1956), dirigido por Don Siegel e adaptado da obra de Finney, é levada, aqui, para o ambiente escolar. O jovem vítima de bullying, a lésbica e o traficante seriam sujeitos que naturalmente teriam problemas para confiar no próximo, estigmatizados pelo papel que cumprem dentro de seus microcosmos sociais – numa associação que força a barra para ser um eco da situação dos americanos suspeitos de comunismo na década de 1950.
O Enigma de Outro Mundo (1982) é outra grande influência da produção. Além de manter esse clima de suspeição sobre o próximo, há cenas que dialogam diretamente com o filme de John Carpenter. Depois de descobrirem que uma droga diurética é capaz de matar os alienígenas, os estudantes testam o material em si mesmos, como na cena do fogo do clássico de 1982. Em outra, uma cabeça adquire pernas e anda sozinha depois de ser decepada.
Um dos pontos altos de Prova Final é o elenco. Robert Patrick como o surtado treinador Willis rouba a cena sempre que aparece. Piper Laurie recria uma personagem maluca como a de Carrie – A Estranha (1976) e está assustadora. Framke Janssen parece se divertir muito como a srta. Burke. Jordana Brewster, Clea DuVall, Josh Hartnett e Elijah Wood também convencem como os jovens protagonistas. Especialmente quando discutem a cultura pop e soltam frases ridículas como “acho que nossa escola está sendo invadida por extraterrestres”.
Sempre achei estranho que esse filme tenha sido dirigido por Robert Rodriguez, visto que, com exceção da presença gratuita de Salma Hayek, não há muitos traços de sua assinatura. É provável que o trabalho fosse uma encomenda do estúdio, cuja opção original para o trabalho era o próprio Williamson – que declinou para poder comandar Tentação Fatal (1999).
Embora seja uma obra interessante para revisitar, Prova Final está longe de ser um filme perfeito. A trama parece apressada demais, o roteiro tem um monte de furos e se apoia demais nas referências. A presença de um cineasta do calibre de Craven certamente teria ajudado a dar sentido aos recortes e deixado a produção com menos cara de pós-modernidade.