O cineasta francês Christophe Honoré (de Em Paris e A Bela Junie) não esconde de ninguém sua paixão pela Nouvelle Vague. Mas não se trata de um saudosismo passivo e reverente. Embora haja em seus filmes traços visíveis e irrefutáveis do movimento capitaneado por cineastas como François Truffaut e Jean-Luc Godard, o diretor não se furta da obrigação de inventar e surpreender. O sublime musical Canções de Amor (2007), um de meus filmes de cabeceira, é prova disso.
Aos moldes dos filmes cantados do mestre Jacques Démy, como Os Guarda-Chuvas do Amor (1964), o longa de Honoré conta, em três atos, a história do jornalista Ismaël (Louis Garrel, astro de Os Sonhadores e Em Paris).
Embora haja em seus filmes traços visíveis e irrefutáveis do movimento capitaneado por cineastas como François Truffaut e Jean-Luc Godard, o diretor não se furta da obrigação de inventar e surpreender.
No primeiro ato, o personagem vive uma história de amor a três, com sua namorada Julie (Ludivine Sagnier, de 8 Mulheres) e uma colega de redação, Alice (Clotilde Hesme, da série Les Revenents). No intermediário, Ismaël sofre um grande golpe que lhe tira o chão.
E, no último, ele redescobre a possibilidade amar — e de forma tão inusitada quanto inesperada: nos braços de um jovem rapaz, Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet, de A Bela Junie) Em todos, a questão de gênero e sexualidade é onipresente, mas sempre tratada de forma natural, sutil. O que importa é o que os personagens sentem.
Costurada pelas belíssimas canções de Alex Beaupin, que venceu o César (o Oscar francês) de melhor trilha sonora, a trama de Canções de Amor flui transbordando citações à Nouvelle Vague, que vão dos dilemas à la Antoine Doinel (herói da série de filmes de Truffaut estrelada por Jean-Pierre Léaud e iniciada por Os Incompreendidos) de Ismaël à câmera orgânica e aos cortes secos, dignos da urgência narrativa do cinema de Godard.
Mas o que fica e cola na memória do espectador é mesmo o despudor do tributo de Honoré ao amor romântico, tema recorrente na obra do diretor, e, é claro, as canções de Beaupin, repletas de humor, ironia e poesia.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.