Ok, confesso que nem sei direito por onde começar a falar de The Defiant Ones. Deixem-me tentar organizar minhas ideias… Em primeiro lugar, é uma série documental diferente de qualquer outra que já vi, e olha que já tive minha cota delas. Não é apenas pelo fato de ter apenas quatro episódios, é mais que isso. Quero dizer, é um documentário prazeroso de assistir, mas não deixa de ter aquele estilo característico de documentário. Assistir isso foi… Foi…
Ai, cara, tá difícil colocar isso de forma simples, heim?
The Defiant Ones entrelaça duas narrativas que só se encontram definitivamente lá pela metade da série. A primeira é sobre Jimmy Iovine. Talvez você não tenha ouvido falar dele diretamente, mas com certeza já ouviu falar dos artistas com os quais ele trabalhou através de sua gravadora Interscope: U2, Nine Inch Nails, Snoop Dog, Tupac Shakur, Lady Gaga, Kendrick Lamar… Esta é a história da vida dele, desde quando ele era apenas um jovem do Brooklyn contratado (e logo depois demitido) para limpar um estúdio, passando por sua carreira produzindo artistas como Patti Smith e Bruce Springsteen, até se tornar um dos maiores magnatas da indústria musical, abrindo seu caminho até o topo com a fúria e energia de um pitbull raivoso, mas sem deixar de manter uma rígida ética de trabalho.
Melhor do que qualquer palavra que eu use para definir esta série é assisti-la por conta própria, não?
A segunda narrativa é sobre Dr. Dre, o qual é mais provável que você já tenha ouvido falar – e também simplesmente ouvido: rapper, engenheiro de som, produtor musical e um dos mais bem-sucedidos empresários do mundo do hip-hop (é, a área de atuação dele é vasta), a história de Dre é explorada em todos os seus altos e baixos, com um olhar surpreendentemente sincero e profundo. Sua carreira dentro do grupo N.W.A., o espancamento da apresentadora de TV Dee Barnes, o sucesso contra todas as adversidades de seu álbum solo, The Chronic, sua prisão após fugir da polícia alcoolizado em uma perseguição de carro, a conturbada relação com a gravadora Death Row… E, claro, sua eventual parceria com Iovine, que resultou na revelação de artistas de sucesso como Eminem, na criação da grife de fones de ouvido Beats e em um acordo bilionário com a Apple – que Dre quase pôs por água abaixo após uma comemoração que foi um pouco longe demais.
A ideia de um documentário contando histórias dos bastidores do mundo da música não é nova – Behind the Music tem feito isso há anos -, mas o que diferencia The Defiant Ones é a qualidade e a elegância com que apresenta sua história (irônico, considerando a quantidade de palavrões que são ditos). E em nenhum outro aspecto isso fica tão evidente quanto em sua edição, assinada por Lasse Järvi e Doug Pray. Embora na aparência mantenha o formato documental clássico, com “cabeças falando” intercaladas por imagens de arquivo, logo se nota a forma como certas cenas jogam a fala de um entrevistado contra a de outro: o que poderia ser apenas um relato denso e sem graça de uma conversa ou negociação passada torna-se uma reprodução empolgante de como ela deve ter de fato acontecido. Junte isso com a forma como as imagens de arquivo e encenações são justapostas e uma edição de áudio que encaixa a música no ritmo das imagens, e você tem um documentário cinematográfico, de tirar o fôlego, e do qual não dá pra desviar o olho.
Falando na música… Mesmo que hip-hop não seja o que você mais goste, não dá pra negar que a trilha sonora de The Defiant Ones apresenta algumas das melhores músicas que o estilo tem a oferecer. Caso não curta, a série é bem capaz de abrir sua mente com o simples contato com a música acompanhada pelas histórias de fundo que a explicam. E caso já curta… Bem, deleite-se enquanto aprende mais sobre algumas das pessoas mais importantes do meio. Isso se já não assistiu a série.
The Defiant Ones foi um documentário que já vinha atiçando minha curiosidade e que, como dá pra perceber, me impressionou e surpreendeu bastante. O que admito que foi fácil, considerando que tudo o que sabia sobre Dr. Dre foi o que pesquisei após assistir Straight Outta Compton, e Iovine era apenas um nome que vira e mexe aparecia quando eu pesquisava sobre algum cantor famoso na Wikipédia. Mas foi interessante descobrir coisas novas sobre estes personagens, ver seus respectivos talentos em toda a sua emoção e brutalidade, junto à persistência, dedicação e inventividade com a qual eles atuaram não apenas no mundo da música (com o qual ambos possuem uma relação de amor e ódio), mas também dos negócios e da tecnologia, tentando criar um ambiente no qual pessoas talentosas pudessem descobrir e incentivar outras pessoas talentosas.
Se você gosta de música em geral e/ou documentários informativos sem serem chatos e/ou histórias de pessoas incríveis, e tem acesso à Netflix, dê uma conferida enquanto está disponível lá. Afinal, melhor do que qualquer palavra que eu use para definir esta série é assisti-la por conta própria, não?