Não tem como falar da história da televisão sem falar do rádio. Os primeiros passos da TV foram apoiados em redatores, locutores e artistas vindos do rádio, como Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Além disso, os primeiros programas televisivos também vieram do rádio, sendo o Repórter Esso um desses exemplos.
Mas ainda hoje é possível perceber as marcas do radialismo no meio televisivo. Os programas de auditório, por exemplo, que se formaram no rádio, são um dos principais na grade televisiva. O drama das telenovelas, bem como o “ao vivo” e os plantões no telejornalismo, também foram extraídos do rádio.
Para saber um pouco mais de como é essa intrínseca relação entre rádio e televisão na prática e na produção, convidamos para uma entrevista o jornalista e historiador Osmar Macedo, que já foi jornalista na televisão e hoje é repórter da Rádio Itatiaia.
ESCOTILHA » Osmar, como você enxerga a relação entre rádio e televisão? Acha que ainda hoje existe uma apropriação de características do rádio pela TV?
Osmar Macedo » A televisão é a junção da imagem e do som. Um fortalece o outro. São, na quase totalidade do tempo, interdependentes. E hoje, com as novas tecnologias e características comunicacionais, sendo a hibridização uma delas, a televisão continua buscando elementos do rádio para a sua construção estética e audiovisual. Temos como exemplo a linguagem de muitos programas de auditório e, principalmente, de telejornais com mais dinamicidade com o objetivo de se aproximar ainda mais do telespectador.
ESCOTILHA » Você vê alguma influência do radiojornalismo no telejornalismo?
Osmar Macedo » Sim. Como disse na resposta anterior, o telejornalismo tem investido em uma linguagem mais direta e envolvente. O rádio é o veículo de comunicação mais rápido de todos. Para tentar diminuir essa diferença, as emissoras de TV têm, além de adaptado a narrativa, disponibilizado boa parte da programação para programas com coberturas jornalísticas ao vivo, com conteúdos que afetem o dia a dia do cidadão. A “Dona Maria” e o “Seu Joaquim” que se sentiam “abraçados” diariamente, em tempo real, pelo locutor de rádio favorito, agora têm também em apresentadores de telejornais, ou mesmo na “moça do tempo”, a sensação de estarem dividindo cada momento do dia.
ESCOTILHA » Então, o que você destacaria, na esfera do jornalismo, como pontos parecidos e diferentes nesses meios?
O público merece ser informado com qualidade e respeito.
Osmar Macedo » Trabalhar em rádio não me obriga mais a estar engomado todo dia. (Risos) Em TV, como dizem, uma imagem pode dizer mais que mil palavras. E até a forma como o jornalista se veste e segura o microfone pode influir na aceitação do telespectador/receptor da mensagem. Ou seja, para conquistar a credibilidade, muita coisa está envolvida além do texto e do som. Porém, destaco que há semelhanças entre esses dois importantes veículos de comunicação. Tanto na TV quanto no rádio, o jornalismo precisa (e deve ser) sempre imparcial, claro e objetivo. O espectador está à procura de novidade e a notícia deve ser a verdade dos fatos, com a presença de várias vozes. Nós, jornalistas, somos responsáveis por isso, independentemente do veículo para o qual trabalhamos. É preciso dar voz, inclusive a quem nos acompanha.
ESCOTILHA » Como foi e é trabalhar em cada um desses meios?
Osmar Macedo » Atualmente trabalho em uma emissora de rádio, na Rádio Itatiaia, em Minas Gerais. Acredito que o rádio exige do profissional mais dinamicidade e agilidade que a TV, pois temos que transformar em palavras tudo o que vemos e ouvimos. Durante a edição, a utilização de efeitos sonoros, como trilhas, vinhetas, músicas, a própria fala do entrevistado e a entonação durante locução (altura da voz, a dicção, o ritmo e a interpretação) podem contribuir para que a mensagem seja recebida e interpretada pelo ouvinte de forma clara e objetiva. Em televisão, por sua vez, o texto está sempre relacionado a alguma imagem, seja captada no local, de arquivo ou criada artisticamente para realçar a mensagem. Porém, cada um, a seu tempo e a seu modo, foi ou está sendo gratificante para mim.
ESCOTILHA » Sabemos que foi você, através da Rádio Itatiaia, quem deu, em primeira mão, a notícia sobre o atentado à Creche Gente Inocente, de Janaúba, que chocou o Brasil inteiro, em 05 de outubro de 2017. Nenhum outro meio de comunicação havia noticiado o fato ainda. Você acredita que isso só foi possível por estar no rádio? Acha que os plantões da televisão não são tão rápidos como os do rádio?
Osmar Macedo » Definitivamente, os plantões de televisão, e de qualquer outro veículo de comunicação, não são mais rápidos do que os do rádio por uma série de fatores. Primeiro que, por questões técnicas, o rádio tem condições de transmitir a informação com mais rapidez do que qualquer outro meio. A irradiação é apenas do som. Sendo assim, ao rádio cabe comunicar em tempo real, com instantaneidade e agilidade.
Tomemos como exemplo a tragédia na Creche Gente Inocente, em Janaúba, norte de Minas Gerais, em 05 de outubro do ano passado, que deixou 14 mortos, e foi noticiada, assim como vários outros fatos, em primeira mão pela Rádio Itatiaia, uma das principais emissoras do país. Dois minutos após sermos comunicados pelo Pelotão do Corpo de Bombeiros da cidade, o plantão já estava no ar. Esse é o tempo suficiente para acionar a coordenação de jornalismo da emissora e entrar, imediatamente, no estúdio, ao vivo.
Diferentemente de uma emissora de televisão, que teria que preparar, por exemplo, a iluminação do estúdio ou mapas indicando o local do atentado, conseguimos narrar os fatos instantaneamente, utilizando, naquele primeiro momento, as informações repassadas pelos bombeiros e o nosso conhecimento sobre a região.
ESCOTILHA » Para finalizar, o que você destaca, enquanto profissional da comunicação, como pontos positivos e negativos de cada um dos meios? E como um mero telespectador e ouvinte?
Osmar Macedo » O rádio e a televisão são veículos de comunicação fundamentais para a sociedade e também para a democracia. Ambos buscam inovação em meio às novas mídias e tecnologias. A digitalização tem sido um instrumento importante para isso. Porém, considero necessária a revisão da forma como as concessões das emissoras são feitas, pois a mídia no Brasil está concentrada, em muitos casos, em grupos familiares ligados a políticos. Isso, a meu ver, não seria uma maneira adequada para a democratização dos meios.
Do outro lado do rádio e da TV, como ouvinte e telespectador, espero que haja ainda mais investimento em jornalismo ao vivo e em profissionais, mas com o cuidado necessário para evitar abusos e sensacionalismo. O público merece ser informado com qualidade e respeito.