Na última terça-feira (dia 29 de janeiro), estreou na Rede Globo a nova novela das sete, Verão 90, substituindo a decepcionante O Tempo não Para. Durante essa primeira semana, nos foi apresentada a trama principal e aos poucos estamos conhecendo os personagens. Porém, nesses dias que a produção está no ar, já pudemos entender que caminho a direção escolheu seguir para conquistar o coração dos brasileiros: a nostalgia.
Todo mundo tem uma memória afetiva de séries, filmes, programas televisivos e músicas que lembram a infância, seja ela nos anos 80, 90 ou 2000. Atualmente, obras de cultura pop com referências nostálgicas são comuns e fazem muito sucesso. O fenômeno Stranger Things, da Netflix, é um ótimo exemplo.
Escrita por Izabel de Oliveira e Paula Amaral, com direção artística de Jorge Fernando, Verão 90 começou na década de 80, mostrando os personagens crianças Manuzita, João e Jerônimo e contando a história de como eles formaram o grupo infantil A Patotinha Mágica. Também conhecemos as personagens de Cláudia Raia e Dira Paes, que interpretam as mães. Ambas, no primeiro capítulo, já deram o tom de suas personagens: a mãe perua, sem noção e meio irresponsável e a mãe batalhadora e exigente. Ainda no capítulo de estreia, vimos o fim do grupo infantil e o reencontro de Manuzita (Isabelle Drummond) e João (Rafael Vitti), 10 anos depois, nos anos 90.
A semana foi marcada por uma explosão na tela de todas as referências possíveis e imagináveis à época retratada: inserções de imagens da TV dos anos 1980, trilha sonora composta por sucessos da época, estética com referências ao videoclipe e menção e cenas das novelas e programas televisivos. Temos até uma referência clara ao canal MTV Brasil, lançado na década de 90 e que fez da infância e adolescência da minha geração. Entretanto, até agora, apesar do exagero, esse canhão de nostalgia não chega a incomodar e serviu para ratificar a proposta da produção em mexer com o imaginário e a memória afetiva do público.
A abertura é maravilhosa e um ótimo exemplo. Ao som da música Pump Up The Jam, da banda Technotronic, o clipe conta com a participação de Arielle Macedo (coreógrafa de Anitta), da bailarina Tatiana Lima e de Anitta. A coreografia é de Júlio Molina, coreógrafo de Claudia Leitte.
Têm referências ao clipe do clássico da lambada Chorando Se Foi; as boybands como New Kids on the Block, Backstreet Boys e N’Sync; a logo das novelas Pedra sobre Pedra e Roda de Fogo, as facas Ginsu; o game Pião do Baú; o clássico passinho de Macarena; os jogos de verão do Master System; o nascimento do grunge e da banda Nirvana; além de objetos como telefone sem fio, mola maluca, skate e patins.
No enredo, as referências vão desde os anos 70. Os personagens Lidiane (Cláudia Raia) e Herculano (Humberto Martins) foram estrelas da pornochanchada e suas lembranças desse período de sucesso apareceram em flashbacks. Dos anos 80, tivemos uma cena do Herculano falando do cinema nacional e usando gírias como “morô?”, “altas sacações” e “chocante”. Manuzita criança (Melissa Nóbrega) participou do Cassino do Chacrinha e imagens reais do programa apareceram na novela, com direito a Fábio Jr, chacretes e bordões.
Para a passagem de tempo para chegar aos anos 90, foi usado um clipe que reuniu imagens dos momentos, fatos e personalidades mais relevantes do período. Teve desde o praticamente “falecido” orelhão até Cazuza e Freddie Mercury, passando pela edição de estreia do Rock in Rio, a copa de 86, vitórias de Ayrton Senna na fórmula 1, shows de Michael Jackson, Madonna, George Michael, a queda do muro de Berlim e até a clássica cena da novela Vale Tudo (no ar atualmente no canal Viva) em que Marco Aurélio (Reginaldo Faria) dá uma banana para o Brasil do alto de seu helicóptero, enquanto foge do país.
Nesses dias que a produção está no ar, já pudemos entender que caminho a direção escolheu seguir para conquistar o coração dos brasileiros: a nostalgia.
Já nos anos 90, por enquanto tivemos a participação de Manuzita na novela Tieta; João dirige uma Brasília amarela, em homenagem à banda Mamonas Assassinas; peças de roupas como o collant, que era de uso obrigatório em aulas de jazz na época; uma mala cheinha de pochetes e o uso de fones de walkman; Manu em Top Model, sucesso do horário das sete, e a música “Please, don’t Go“, da banda Double You.
E já que citei uma música, vale citar a trilha sonora, que conta com uma seleção de músicas dignas de serem gravadas em uma fita k-7, como “Óculos”, “Pro Dia Nascer Feliz”, “Rio 40 Graus”, “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, “Flores”, “Toda Forma De Amor” e “Mania de Você”. Veja a lista completa aqui.
Porém, os momentos nostálgicos não seguram 6 meses de novela, e a história da trama ainda engatinha. Apegar-se apenas em referências de 30 anos atrás pode ser um erro, afinal elas pouco mexem com os jovens e adolescentes de hoje. Em questão de enredo, até agora não vimos nada de original. Com esse monte de citações a tramas do passado, Verão 90 corre o risco de soar como um remendo de outras novelas. Mas é cedo, a telenovela mal começou. Vamos torcer para que uma história minimamente original apareça.