Quando Preacher foi anunciada como nova adaptação da AMC, a expectativa era grande. Quando finalmente chegou ao ar, houve certa decepção, já que os produtores decidiram criar uma história que contava o período anterior ao primeiro HQ. Ainda que compreensível a chateação do fã dos quadrinhos, a balbúrdia era exagerada: a primeira temporada de Preacher teve muito bom gosto, introduziu bem a história e, salvo pequenos percalços de uma temporada inicial que se propõe a adaptar uma HQ, foi bem-sucedida.
A estratégia, ainda por cima, era inteligente, pois mantinha acesa a ansiedade no fandom pela temporada seguinte. Exibida em 2017 (e disponível no Brasil pelo Amazon Prime Video), a segunda temporada de Preacher foi muito melhor estruturada, além de ter chegado a um nível de clareza que facilitou os espectadores que não conhecem o produto do qual foi adaptado.
Jesse Custer (Dominic Cooper), o pastor possuído por uma entidade sobrenatural que lhe confere o poder de fazer com que qualquer pessoa lhe obedeça, está no encalço do paradeiro de Deus, que aparentemente desistiu da humanidade e abandonou seu posto. Acreditando que apenas Ele seria capaz de resolver essa situação com Gênesis (a tal entidade que domina Jesse), o ex-pastor, juntamente com Tulip (Ruth Negga) e Cassidy (Joseph Gilgun), segue uma agitada busca pelo todo poderoso.
Em um cenário em que Deus está desaparecido, as únicas pessoas interessadas em descobrir a razão de seu sumiço são um vampiro, um ex-pastor possuído por uma entidade fugida do Paraíso e uma mulher com histórico de violência.
É preciso citar o quão brilhante (e irônico) é o argumento da série. Em um cenário em que Deus está desaparecido, as únicas pessoas interessadas em descobrir a razão de seu sumiço são um vampiro, um ex-pastor possuído por uma entidade fugida do Paraíso e uma mulher com histórico de violência. Por sinal, esta temporada começa a acrescentar elementos teológicos em seu enredo muito mais que no primeiro ano e o faz de maneira sutil, mas sempre como parte importante da trama.
A equipe do produtor Sam Catlin deu corpo à série, mas sem renegar o que aconteceu no primeiro ano e sem utilizar a teologia e as metáforas da busca por Deus como mecanismo de salvação de maneira pretensiosa. Não há intenção alguma de catequizar o espectador, até porque a junção do trio de protagonistas (com suas histórias paralelas, diga-se) segue extraindo bastante humor de algumas sequências, enquanto insere aqui e ali doses pontuais de emoção e ação – e aqui tem papel fundamental em dar contrapeso a Preacher o personagem de Graham McTavish, que atua como o Santo dos Assassinos, uma espécie de capanga do Paraíso, responsável por solucionar problemas celestiais que nenhum anjo se atreve a mexer.
É verdade que ainda falta a Preacher que Dominic Cooper dê mais vida ao seu Jesse, especialmente por Ruth Negga e Joseph Gilgun terem elevado o nível de suas atuações, isso num contexto em que Evan Goldberg e Seth Rogen, os outros dois produtores executivos da série, responsáveis por dirigir os primeiros episódios em ambas temporadas, diminuíram a verve meio “louco de ácido” que causou má impressão na temporada anterior, especialmente nos episódios por eles dirigidos.
Trocando em miúdos, Preacher ainda tem muito mais apelo aos fãs do gênero e da HQ, mas já demonstra que a adaptação dá conta de contar uma história de forma estruturada e que prende a atenção do espectador sem confundi-lo com inúmeras teorias. Contudo, é evidente que um roteiro bem estruturado e atores entregando o melhor de si será a chave para manter o programa sempre atraente à audiência.