A nova atração humorística da Globo, Fora de Hora, chega envolto em uma expectativa bastante grande: o de suceder o cultuado Tá no Ar: a TV na TV, programa que, durante cinco anos, arrancou risadas e elogios ao satirizar o próprio universo televisivo e introjetar na emissora uma espécie de autocrítica. Produzido pelo mesmo grupo de roteiristas e atores, Fora de Hora estava sendo anunciado com grande expectativa – o que, por si, já é quase um pré-requisito para que a estreia frustre um pouco toda a espera. Normal.
Fora de Hora tem algum parentesco com Tá no Ar, visto que parece investir num filão que era já abordado pelo antecessor, sem exclusividade: a crítica específica ao jornalismo. Não é exatamente uma novidade – o jornalismo é, há muito tempo, uma matéria-prima rica ao humor. Isso já foi explorado, por exemplo, em séries como Great News e mesmo em humorísticos como Hermes e Renato, na MTV. Fora de Hora, inclusive, foi acusado por muitos de repetir a mesma estrutura de Furo MTV, do mesmo canal, apresentado por Bento Ribeiro e Dani Calabresa (hoje na Globo) – que, por sua vez, tinha como referência o quadro clássico “Weekend Update”, do humorístico americano Saturday Night Live.
A proposta, portanto, é exibir, em tempo real, a emissão de um telejornal completo, do início ao fim. O formato, com reportagens e chamadas de repórteres em diversos locais, abre espaço para que muita coisa entre na agenda. Como apontou Maurício Stycer em sua análise, a apresentação do telejornal em bancada por dois apresentadores (Paulo Vieira e Renata Gaspar) possibilita dinamismo na pauta, fazendo que notícias frescas sejam referidas no roteiro. O elenco é afiado e já conhecido do público do Tá no Ar (destacam-se também na equipe novos nomes como Luís Lobianco, Paulo Vieira, Julia Rabelo e Caito Mainier, do Choque de Cultura, que também assina a redação).
Fora de Hora, portanto, parece um programa que ainda está se aquecendo para resultados melhores. Uma sugestão possível, se o foco é mesmo no popular, investir mais em personagens mais caricaturados, com uma caracterização mais acentuada dos atores.
O time é invejável, a proposta é interessante, a expectativa é alta. Na prática, a estreia de Fora de Hora foi competente na ideia, mas os resultados ainda foram tímidos – os quadros não arrancaram a mesma quantidade de gargalhadas tal como fazia Tá no Ar. E por quê? Reiterando a leitura de Stycer, acredito que o programa foque num humor mais popular, com piadas mais bobas, quase infantis (como o quadro em que a repórter Veronica Debom “cobre” o Papa no Vaticano). O mesmo ocorreu na cobertura em Las Vegas do show do Blue Man Group, em que o repórter Marcius Melhem erra e se pinta de verde ou no quadro com o sobrinho preguiçoso de Amyr Klink. Pode-se dizer, então, que Fora de Hora está mais próximo do Zorra do que de Isso a Globo não mostra.
Penso que, para empolgar mais a audiência, faltou mais pungência na crítica à situação do país e ao próprio jornalismo. Na estreia, o quadro mais engraçado foi justamente o capitaneado por Caito Mainier, que parodia os programas policiais que banalizam a violência, típicos, por exemplo, da Record e da Band. E talvez esteja aí a espécie de frustração da estreia: o jornalismo, em si, foi pouco execrado – coisa que o Tá no Ar fazia de forma inspirada, por exemplo, no quadro “Jardim Urgente”, que poderia perfeitamente voltar no novo programa, recapitulando a popularidade de Jorge Bevilacqua (Welder Rodrigues).
Fora de Hora, portanto, parece um programa que ainda está se aquecendo para resultados melhores. Uma sugestão possível, se o foco é mesmo no popular, seria investir em personagens mais caricaturados, com uma caracterização mais acentuada dos atores (como a hilária dentadura que Marcelo Adnet usava no quadro “Balada Vip”, em Tá no Ar). No episódio de estreia, os principais momentos em que isso se pronunciou foram na performance de Marcelo Adnet imitando um motorista, e na hilária atuação de Luciana Paes como uma médica sanitarista que dá uma entrevista aos apresentadores. Assim, investiria mais nos talentos de interpretação do elenco. Talvez haja graça não apenas em rir do jornalismo, mas dos jornalistas.