Por Bruna Bottin*, especial para Escotilha
“Isso não é Oz”, diz uma oficial da polícia à Piper Chapman (Taylor Schilling), logo no episódio de estreia de Orange is the New Black. Além de ser apenas a primeira de muitas referências à cultura pop, é também uma fala que serve para definir a identidade da série. Baseada na história real de Piper Kerman e adaptada para a Netflix por Jenji Kohan (Weeds), Orange is the New Black chega para subverter as produções ambientadas em prisões, como Oz e Prison Break, apresentando o presídio feminino de segurança mínima em Litchfield.
Chapman é uma linda jovem loira de classe média alta que, por azar do destino, acabou sendo presa por um crime cometido anos atrás, e agora precisa se adaptar a um ambiente aparentemente hostil. Esse é o argumento base de Orange is the New Black, mas engana-se quem pensa que é foco mais importante de todo o enredo. O grande acerto de Kohan, como roteirista da série, foi identificar a trama de sua protagonista como um fio condutor de todas as outras histórias ao redor, dedicando tempo para desenvolvê-las.
Sem filtro algum, somos apresentados a mulheres reais que, a sua maneira, buscam um jeito de sobreviver em um sistema que danifica ainda mais a própria dignidade.
Sem filtro algum, somos apresentados a mulheres reais que, a sua maneira, buscam um jeito de sobreviver em um sistema que danifica ainda mais a própria dignidade. As narrativas conduzidas pelas demais detentas ganham forma e se destacam muito bem através de flashbacks, que são utilizados com muita inteligência aqui. Ao invés de apenas revelar os motivos que levaram cada uma ao mesmo destino de uma vida atrás das grades, essa ferramenta serve para contextualizar o passado e o presente, optando muitas vezes em dar atenção aos pequenos detalhes da vida fora da prisão para o espectador compreender certas atitudes do momento.
O elenco de Orange is the New Black não poderia ser mais perfeito pra isso. O grupo diversificado de atrizes, a maioria desconhecida para o grande público, foi importante para compor a narrativa que oscila entre drama e comédia. Veja Crazy Eyes, uma das personagens mais icônicas e caricatas da série, interpretada por Uzo Aduba. Ela é, como o apelido sugere, louca, e por isso protagoniza os principais momentos cômicos das duas temporadas. Ao mesmo tempo, ela possui um passado violento e seu delicado estado mental acaba servindo como uma vantagem para quem souber manipula-la.
É com leveza, naturalidade e muita acidez que o roteiro consegue trabalhar temas polêmicos como o abuso de autoridades, relações homoafetivas, dependência química, aborto, religião, a sexualidade das mulheres e muito mais. Sem dúvidas, isso é reflexo da liberdade que a Netflix proporciona aos produtores de séries. Quando se está livre dessas algemas que a TV tradicional sempre carrega, o único obstáculo que fica é tratar de todos esses assuntos sem banalizá-los, e Orange is the New Black é capaz de fazer isso funcionar sem problemas graças ao tom crítico e natural que adotou desde o princípio.
O que não falta é material para ser explorado na série. Enquanto a primeira temporada serviu para conquistar o público com tantas personagens interessantes, a segunda chegou ano passado com uma característica bem mais densa e trabalhando cada vez mais com a rivalidade, vingança e lealdade. Faltando poucos dias para a estreia da terceira temporada – marcada para o dia 12 de junho –, fica a certeza que Orange is the New Black tem um caminho produtivo pela frente.
* Bruna Bottin é estudante de Relações Públicas na UniRitter, mesmo local onde trabalha como organizadora de eventos acadêmicos, comerciais e corporativos.