“Minha alma tem o peso da luz
Tem o peso da música
Tem o peso da palavra nunca dita”
Clarice Lispector é, sem sombra de dúvidas, um nome de peso. Gigante em sua arte e fortíssima em sua personalidade, a escritora é luz, é música e é palavra; principalmente palavra. Clarice é letra bruta grafada em nuvem, é porrada destilada em mel, é a dureza de seu olhar e a leveza da fumaça de seu cigarro debruçado nos dedos. A escritora, pernambucana por escolha, sempre foi alma solta no vento que cobre o mundo. Mulher de tantas cidades, de tantos dissabores, soube como poucos fazer da literatura um sacerdócio e, trato feito, doou-se por inteira em cada vírgula e em cada exclamação que derramou sobre o papel.
Nesse ano de 2020, Clarice Lispector completaria 100 anos. Diante da importância de sua obra e do encanto que sua figura exerce ainda hoje, é esperado, e justo, que as comemorações estejam à altura da homenageada. Editoras já preparam e lançam edições especiais, feiras e festivais literários dedicam espaços e analisam suas obras e, na cidade de Nova Iorque, seu primeiro livro, Perto do Coração Selvagem, ganha os palcos numa adaptação do The New Theatre Company.
Os 100 anos de Clarice desvendam novamente Clarice Lispector para as novas gerações e nos mata a saudade do peso de sua obra, da música de sua história e das palavras que ela nem precisou dizer pra que batessem fundo na alma da gente.
O romance, tido como moderníssimo, foi sucesso de crítica e de público desde seu lançamento. Segundo o mestre Antônio Cândido, era “uma performance da melhor qualidade”. Jorge de Lima o classificou como o livro que “deslocou o centro de gravitação em que girava o romance brasileiro”. No mesmo ano do lançamento, Clarice entra para a lista de autores cuja as obras de estreia receberam o prêmio Graça Aranha, ao lado de nomes como Murilo Mendes, José Lins do Rego e Raquel de Queiróz.
Pedrada, meus caros. Pedra das boas em vitrine frágil, de modo que a tarefa de levar a obra ao palco é trabalho hercúleo. A tradução ficou a cargo de Alison Entrekin e dizem os entendidos que a coisa ficou de primeiríssima qualidade. Num espaço meio estrangulado, na Rua 106 Oeste, Clarice Lispector tem encantado espectadores com sua Joana, órfã de pai e mãe, e sua doçura venenosa.
Dentre as comemorações à escritora, torcemos para que possamos ver suas obras inundarem os palcos no Brasil e no mundo. Diretores, artistas e autores, e o teatro em toda a sua grandiosidade, devem sempre visitar as histórias de Clarice Lispector, que são absolutamente cênicas e ainda têm muito a dizer sobre o ser humano onde quer que ele esteja, independente da cidade que habite. Os 100 anos de Clarice desvendam novamente Clarice Lispector para as novas gerações e nos mata a saudade do peso de sua obra, da música de sua história e das palavras que ela nem precisou dizer pra que batessem fundo na alma da gente.