As fórmulas são antigas. Tanto a troca de corpos quanto a trajetória de casais com problemas de relacionamento já foram trabalhadas pelo cinema à exaustão. Mas parece que sempre há como tirar um pouco de algo positivo quando elas são reaproveitadas. Tanto que foram. Mais uma vez.
Um dos mais novos resultados da manipulação (ou da junção) dessas duas fórmulas chama-se Marido e Mulher (2017), da diretora italiana Simone Godano. Por mais que o “esqueleto” seja bem conhecido, o roteiro de Giulia Louise Steigerwalt e Carmen Roberta Danza e a interpretação dos protagonistas conseguem dar nuances de criatividade e sensibilidade a mais essa comédia de inversão de mentes, lembranças e personalidades. Uma inversão que serve para trabalhar o conceito de empatia elevado ao extremo.
É justamente sobre a materialização máxima do conceito de empatia que sobrevive a história de Sofia (Kasia Smutniak) e Andrea (Pierfrancesco Favino), um casal prestes a formalizar o divórcio depois de uma união de dez anos. Andrea é neurocirurgião e investiu boa parte de sua vida no desenvolvimento de uma máquina capaz de ler e registrar memórias. Ao tentar fazer um teste do experimento com sua esposa, eles acabam trocando de corpo.
Os espectadores brasileiros farão a relação imediata com Se eu Fosse Você (2006) e Se eu Fosse Você 2 (2009), que traziam Glória Pires no papel de Helena e Tony Ramos interpretando Cláudio.
A partir dessa troca é que a comédia passa efetivamente a ser comédia, “nascendo” na tela as mais inusitadas situações que envolvem, principalmente, a imersão no ambiente profissional um do outro. Por mais que o roteiro também trabalhe questões do relacionamento conjugal em si, com as impressões recíprocas sobre a relação, o que mais tem destaque é o enfoque de acontecimentos cômicos com as inversões das profissões.
Sofia, apresentadora de televisão, precisa saber trabalhar com questões complexas de um hospital, como uma cirurgia de cérebro. E o neurocirurgião Andrea necessita lidar com maquiagem, roupas femininas elegantes, sapato com salto (olha o clichê), excesso de iluminação no estúdio, leitura de teleprompter, desenvoltura para entrevistar e até sentar, além das multidões de espectadores em transmissões ao vivo.
Sim, existem clichês. E eles são muitos. Da dificuldade masculina para andar de salto ou sentar de perna fechada passando por uma cena completamente desnecessária na qual a diretora do colégio lê a carta de um dos filhos de Andrea e Sofia culpando-se por ver a inversão de papéis masculinos e femininos em seus pais. Como se fosse horrível ou criminoso um homem chorar ou uma mulher ser mais ríspida no parque com um assediador. Feitas as ressalvas, no entanto, Marido e Mulher tem suas doses de situações espirituosas e pequenas sensibilidades, sobretudo nos detalhes das interpretações dos atores com comportamentos de gêneros invertidos.
Os espectadores brasileiros farão a relação imediata com Se eu Fosse Você (2006) e Se eu Fosse Você 2 (2009), que traziam Glória Pires no papel de Helena e Tony Ramos interpretando Cláudio. Assim como esses filmes brasileiros dirigidos por Daniel Filho, Marido e Mulher é uma suave comédia descompromissada que funciona se o espectador procurar desligar um pouco as exigências e entregar-se aos risos.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.