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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

O 1080 graus de Gui Khury e o paradigma da antropotécnica infantil

porYuri Al'Hanati
18 de maio de 2020
em Yuri Al'Hanati
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Gui Khoury

Imagem: Reprodução.

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Essa semana, o skatista paranaense Gui Khury, de apenas 11 anos, realizou um marco na história do skateboard vertical: é o primeiro ser humano a realizar um 1080 graus num half-pipe, ou seja, em uma rampa vertical de skate, saltou no ar e deu três voltas completas antes de aterrissar na pista. A difícil manobra foi realizada por um skatista que nasceu nove anos depois do recorde anterior, realizado pelo mítico skatista Tony Hawk, no X-Games de 1999. Hawk ficou para sempre marcado pelo seu 900 graus (duas voltas e meia) realizado na ocasião – após dez tentativas malsucedidas – e inclusive assina uma franquia de jogos de videogame, no qual é personagem jogável e cuja manobra de assinatura é justamente essa.

A parte da história que começa a distorcer a realidade como a conhecemos é a mensagem de apoio que o skatista brasileiro Sandro Dias, o Mineirinho, manda a Khury, na qual o agradece pela contribuição ao mundo do skateboard. Não que Dias acredite que o skateboard seja um esporte de construção coletiva, como a pesquisa científica ou o desenvolvimento tecnológico, mas fica a pergunta: que tipo de contribuição é uma manobra de skate reproduzível por poucos? Para além da contribuição estética, do skateboard como performance e dos skatistas como um tipo específico de acrobata, podemos pensar na contribuição do novo paradigma alcançável e da expansão cartesiana do humanamente possível. Ambos, porém, estão fora da realidade de esportistas incríveis como o próprio Mineirinho. Khury contribui para o devir, e, com seu 1080 graus, faz a terraplanagem do terreno irregular da potencialidade do skate como é conhecido hoje.

Essa semana, o skatista paranaense Gui Khury, de apenas 11 anos, realizou um marco na história do skateboard vertical: é o primeiro ser humano a realizar um 1080 graus num half-pipe, ou seja, em uma rampa vertical de skate, saltou no ar e deu três voltas completas antes de aterrissar na pista.

Para o filósofo alemão Peter Sloterdijk, a batalha do homem consigo mesmo é travada por meio da repetição e do exercício. A chamada antropotécnica é a capacidade delimitante do humano em se fazer como tal. Para ele, o ser humano o é não pela criatividade, mas pela repetição da criatividade, que se perpetua ritualisticamente para além das noções então conhecidas de domesticação do intelecto, conforme descreve em seu livro Você Precisa Mudar Sua Vida, de 2009. Eis o ponto: se o homem se aperfeiçoa por um fazer técnico, que tipo de elevação humana um acrobata no nível de Khury apresenta para a humanidade? A faca da antropotécnica infantil abre a última ferida narcísica na carne da reprodutibilidade do homem. O mundo tecnocrata se organiza em tais esferas de disciplina, e muito embora um skatista mirim não seja um atleta do estado (criado para governar ao invés de criado para ser governado), deixa pouca margem para a excelência da espécie.

O YouTube está repleto de crianças – muitas delas chinesas, retomando para si o monopólio da elite intelectual do mundo – pianistas, cellistas, bateristas, atletas de toda sorte, matemáticos, ágeis em mente e corpo, redefinidoras dos paradigmas futuros. A disciplina para a repetição é, mais uma vez, a tônica da nova geração, algo que os filósofos da metade do século 20 desprezaram em favor da absorção da experiência geral estimulada pelas revoluções culturais da década de 60. No ramo da música erudita, por exemplo, a preexistência de uma idade mínima para se inscrever em concursos ou campeonatos, mais do que um amparo legal para as instituições aplicadoras, é antes de tudo uma salvaguarda da morte digna para aqueles que puderam ser, em alguma parte de suas vidas, generalistas.

A competição é uma dinâmica inextrincável da vida, apenas momentaneamente suspensa quando agentes externos competem pela definição de competição principal. O momento em que a primeira criança estadista assuma seu cargo será o momento em que não será mais possível cheirar as flores. A antropotécnica infantil generalizada será o mecanismo de autogoverno que eliminará de vez a divisão hegeliana de senhor e servo, ao mesmo tempo em que esgotará a si mesma, necessitando de uma nova definição do que seja o humanismo. Que vitórias precoces sejam o prenúncio de expectativas frustradas e desequilíbrio mental no futuro ou não, fiquem à vontade para discutir. Quem quer que esteja lendo esse texto agora não vai querer estar por perto quando nada disso acontecer. Aproveitem o respiro para morrer em paz.

Tags: antropotécnicaCrônicaferida narcísicagui khuryhalf-pipeHegelheideggerskateboardsloterdijkTony Hawk

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