Eu te desafio a ter uma conversa sincera com uma mãe e deixá-la completamente à vontade para desabafar. Já te adianto que é muito difícil: julga-se as mães o tempo todo. E aí, o que acontece?
A gente vai deixando as lamúrias sobre a vida materna para as algumas poucas amigas que são mães, para falar com as nossas próprias mães.
Vai aceitando algumas coisas, normalizando o cansaço, deixando para chorar escondido. Ser mãe é maravilhoso, os filhos são lindos e fofos e surpreendentes, mas a carga imposta às mulheres e (em geral e principalmente às) mães é desumanizante.
Já não bastasse uma lista imensa de coisas para fazer (algumas que a sociedade cobra, outras que estão tão intrínsecas nas nossas cabeças que é uma luta a mais se desfazer delas), adicione a essa mistura: uma pandemia causada por um vírus misterioso (ou seja, nossas crianças estão expostas e o que mais prezamos é pela vida deles), governantes inaptos, a falta de uma perspectiva de retorno das escolas e de qualquer rotina “normal”.
Então, se for cumprir o desafio que te propus no início desse texto e for oferecer uma chance de falar para as mães, todas te dirão: estão cansadas, confusas, exaustas, reconsiderando todas as decisões da vida.
Quero ser vista como o ser humano que sou, que ama os papéis que decidiu assumir e que às vezes está cansada e só quer não pensar em nada.
Se não está fácil para ninguém, pode ter certeza que para as mães está mais difícil. Mas, sabe, isso não é culpa delas. Não, de jeito nenhum. A culpa é da sociedade patriarcal, dos padrões inalcançáveis, do mito em torno dos “super poderes” da mulher. “Nossa, ela consegue fazer tudo” ou a TERRÍVEL variante: “ela é uma guerreira”. Dispenso a capa e o arco e flecha.
Quero ser vista como o ser humano que sou, que ama os papéis que decidiu assumir e que às vezes está cansada e só quer não pensar em nada. Mas, pasmem: isso ainda é um tabu. Assumir o cansaço ou precisar de um tempo sozinha. Deixar a casa bagunçada, as crianças com a roupa suja e trocar o almoço por sanduíche. Geralmente a gente não assume isso em público, embora isso aconteça em 99% das casas.
Por sorte, algumas vozes dissonantes surgem: essa semana conheci o podcast Calcinha Larga, que foi lançado em maio deste ano. Ali, três mães falam, sem papas na língua, sobre o mito da perfeição da mulher e mãe. Ao ouvir as experiências de outras mulheres, a identificação com as cenas cotidianas nos dá o que precisamos para nos livrar as amarras do patriarcado: aprovação social.
As mulheres que comandam o Calcinha Larga são Tati Bernardi (autora de best-sellers e colunista da Folha de São Paulo), Camila Fremder (escritora, roteirista e podcaster do É nóia minha?) e Helen Ramos (atriz e roteirista que ficou conhecida pelo canal no Youtube Hel Mother). Sozinhas ou com alguma mãe convidada, elas falam sobre criação dos filhos, limites da maternidade e, principalmente, assumem os supostos “erros” das mães, normalizando-os.
Uma dose de saúde mental, todas as quartas-feiras, no Spotify.