• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Henrique Fendrich

O feitiço de Katie Stelmanis

porHenrique Fendrich
22 de julho de 2020
em Henrique Fendrich
A A
"O feitiço de Katie Stelmanis", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

You must be the call, the evil at night
Speaking words of grace, while spellwork delights.
(Spellwork, Austra)

A melhor banda desta década é o Austra. E o leitor me questionará: “Quem?”. O Austra não é das bandas mais famosas mesmo. Trata-se de uma banda do Canadá que faz algo situado entre a new wave, o synth-pop, a indietronica, o dream pop – gêneros de que nunca havia me imaginado gostando.

O começo de tudo foi quando ouvi “Lose it”. Ouvi em meio às músicas de rock alternativo que costumo ouvir e os vocais me chamaram a atenção logo na primeira vez. Era uma mulher cantando. “Voz poderosa”, pensei. Depois de um tempo, ouvi de novo e gostei mais. E ouvi de novo, e de novo, e de novo – a ponto de a minha mãe perguntar se eu não havia me enjoado. “Lose it” tem, de fato, alguma coisa, uma magia, um encanto, aqueles vocais não são deste mundo. Sinto-me voando no espaço toda vez que a ouço – dizem as minhas estatísticas que já a ouvi quase 250 vezes.

Ora, tamanha obsessão fez com que eu fosse pesquisar mais sobre a banda. Descobri então que a vocalista se chamava Katie Stelmanis e que Austra é o seu nome do meio – além de ser o nome da deusa da luz na mitologia letã, sendo letã a ascendência de Katie. Também soube que, antes de se aventurar no mundo pop, Katie cantava ópera, o que fez sentido, porque a força de sua voz parece mesmo a de ópera.

Naturalmente, fui ouvir outras músicas que não “Lose it”. O primeiro álbum da banda, lançado em 2011, chama-se Feel it break e hoje eu já o reputo como o melhor da década – ah, não esperem comedimento de um apaixonado. O interessante é que, numa primeira ouvida, ele não me pareceu tão fantástico assim. Depois de “Lose it”, qualquer coisa me pareceria abaixo. Mas isso acontece muito com o Austra: depois de ouvir várias vezes uma música é que ela revela toda a sua beleza, força e genialidade.

Foi assim que percebi “Spellwork”, música e clipe repletos de referências ritualísticas, místicas, góticas, “bruxescas”, que lançam um “feitiço” sobre o ouvinte e que bem definem o tipo de som feito pela banda ao longo de todo o disco. Aliás, “Spellwork” fez parte do The Sims 3, então a banda, embora não seja das mais conhecidas, também não é tão obscura assim.

Há músicas como a lindamente soturna “The choke” que podem ser classificadas como uma experiência espiritual. O som do Austra tem realmente algo de extracorpóreo. Posso até me imaginar flutuando em meio a luzes do pós-morte embalado pela voz de Katie Stelmanis.

O som do Austra tem realmente algo de extracorpóreo. Posso até me imaginar flutuando em meio a luzes do pós-morte embalado pela voz de Katie Stelmanis.

A isso se soma todo o efeito sensual de “Beat and the pulse”, o ambiente existencialista de “Identity”, todo o vigor de “Trip” ou “Energy”, dois belíssimos covers (“Woodstock”, da Joni Mitchell, e “Crying”, do Roy Orbison) e ainda as gêmeas, ah, aquelas gêmeas.

Os dois primeiros discos da banda contam com os vocais de Sari e Romi Lightman, as gêmeas que mantêm a estranhíssima Tasseomancy, banda de música experimental. São provavelmente elas que explicam o surrealismo no clipe de “Lose it”. Ambas casam muito bem com a voz de Katie, como pode se observar em uma versão “a cappella” de “Woodstock”, que consegue o feito de ser melhor que a de estúdio.

São também as gêmeas que sopram a palavra “hope” nos ouvidos de Katie no clipe de “Home”, a carro-chefe do disco seguinte, Olympia (2013). Eu ouvi muito “Lose it”, mas hoje “Home” já figura à frente nas estatísticas, com quase 300 audições. Não é para menos, é incrível como em poucos segundos a banda consegue nos transportar para a atmosfera da letra – que é romântica, afinal, e fala da namorada de Katie. Ah, sim, Katie é queer, um termo e uma bandeira sempre assumidos pela banda.

A ideologia à frente de Katie em questões de gênero também se estende à política. Leitora voraz de livros sobre “pós-capitalismo”, ela concebeu com o Austra em 2017 o disco Future politics, no qual se vislumbra uma humanidade que já superou todas as mesquinharias que hoje nos dividem. Calhou que isso coincidisse com as minhas próprias impressões, daí resultando o aumento do meu culto à banda.

Temas como a depressão também perpassam as músicas, destacando-se “I love you more than you love yourself”, inclusive pelo clipe, o qual reconta a história da astronauta Lisa Nowak (isso antes de a Natalie Portman estrelar Lucy in the sky). Certos dramas de relacionamentos também dão o tom do mais recente disco da banda, HiRUDiN (2020), que é, em essência, sobre relacionamentos tóxicos (ou seja, extremamente atual e pertinente).

Ah, do que mais posso falar? Eles gravaram “Alone, Together”, dos Strokes, e posso garantir que nunca os Strokes soaram tão lindamente. “Habitat”, de um EP de 2014, é outra das melhores coisas que a banda fez. Cite-se ainda “Fire”, do segundo disco, e relacione-se ainda, entre os covers, uma do Duran Duran, “American science”. Tudo isso casou de um jeito muito marcante para mim, e hoje não passo um dia sem ouvir a banda. O feitiço foi forte.

VEJA TAMBÉM

"Drama da mulher que briga com o ex", crônica de Henrique Fendrich.
Henrique Fendrich

Drama da mulher que briga com o ex

24 de novembro de 2021
"A vó do meu vô", crônica de Henrique Fendrich
Henrique Fendrich

A vó do meu vô

17 de novembro de 2021

FIQUE POR DENTRO

Néstor Cantillana e Antonia Zegers comandam a trama de 'O Castigo'. Imagem: Leyenda Films / Divulgação.

‘O Castigo’ transforma a maternidade em um território de culpa e silêncio

23 de dezembro de 2025
Stellan Skarsgård e Elle Fanning dividem a tela em 'Valor Sentimental'. Imagem: Mer Film / Divulgação.

‘Valor Sentimental’ não salva ninguém

22 de dezembro de 2025
Da esquerda para a direita: Cameron Winter, Max Bassin, Dominic DiGesu, Emily Green. Imagem: Jeremy Liebman / Reprodução.

Geese transforma exaustão em movimento em ‘Getting Killed’

22 de dezembro de 2025
Jeremy Allen White segue entregando grandes atuações na série. Imagem: FX Productions / Divulgação.

Na quarta temporada, ‘O Urso’ reencontra seu eixo entre ambição e simplicidade

20 de dezembro de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.