A poucos meses da eleição presidencial nos Estados Unidos, há alguns filmes que merecem ser revisitados. Babel (2007), do cineasta mexicano Alejandro González Iñarritú (vencedor do Oscar de melhor direção por Birdman e O Regresso) é um deles. Terceira e derradeira parceria com o roteirista Guillermo Arriaga, com quem realizou Amores Brutos, que agora completa 20 anos de lançamento, e 21 Gramas, o filme traz as marcas registradas da trilogia assinada pelos dois, que brigaram quando Arriaga reivindicou a codireção deste último projeto realizado a quatro mãos.
Babel, que deu a Iñarritú o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, toca em temas que dizem diretamente respeito ao país de origem do seu diretor e roteirista.
Avessos a histórias lineares, com princípio, meio e fim, a dupla tinha o hábito de entrelaçar as trajetórias de vários personagens em uma bem-amarrada relação de causa e efeito em que tudo parece estar interligado. Chamavam isso de Teoria do Caos. Em Babel, essa estratégia narrativa, por alguns de seus críticos chamada de fórmula, foi levada às últimas consequências.
O ponto de partida da trama é um acidente. Os filhos de um criador de cabras no interior do Marrocos pegam um rifle recém-adquirido pelo pai e, enquanto praticam suas parcas habilidades no gatilho, atingem uma turista norte-americana (Cate Blanchett), que viaja em um ônibus com o marido (Brad Pitt). Enquanto isso, nos Estados Unidos, sua empregada mexicana (Adriana Barraza, em uma grande atuação), sem ter com quem deixar os filhos do casal, atravessa a fronteira com as crianças para comparecer ao casamento do filho, no México. Sua decisão terá conseqüências desastrosas, senão trágicas.
A terceira história de Babel se passa no Japão e se interconecta com as outras duas por conta de um pequeno detalhe: a origem da arma que feriu a turista americana no Marrocos. No centro da narrativa está uma jovem estudante surda-muda, defendida com maestria pela japonesa Rinko Riguchi.
Babel, que deu a Iñarritú o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, toca em temas que dizem diretamente respeito ao país de origem do seu diretor e roteirista. A jornada trágica da personagem vivida por Adriana Barraza, que esbarra no preconceito e na truculência vigentes na fronteira entre México e Estados Unidos, acirrados com o governo de Donald Trump, é de grande importância em tempos nos quais muralha físicas e simbólicas separam ainda mais dois países e – por que não? – dois mundos na cabeça de muitos.
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