• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Televisão

‘Born to Fashion’ resvala na “cultura do cancelamento”

Coluna discute a repercussão do episódio do reality show 'Born to Fashion', do canal E!, em que Alexandre Herchcovitch recebe uma aula de modelos transexuais.

porMaura Martins
21 de setembro de 2020
em Televisão
A A
Born to Fashion, reality show do canal E!

Apresentadores e participantes do 'Born to Fashion'. Imagem: Divulgação.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Uma das atrações mais interessantes atualmente na TV a cabo é o reality show Born to Fashion, uma competição de modelos com formato semelhante a muitos outros programas sobre moda (dentre eles, America’s Next Top Model, Project Runaway e mesmo RuPaul’s Drag Race). A atração do canal E!, que é brasileira, diferencia-se especialmente num detalhe importante: todas as modelos competidoras são mulheres trans.

O programa, inclusive, gerou bastante repercussão antes mesmo de sua estreia. Financiado pela Ancine, Born to Fashion entrou no raio das polêmicas de Jair Bolsonaro como um exemplo de produto que a agência não deveria patrocinar, por ir contra à sua ideia de “moral e bom costumes” (o programa venceu edital e pode captar 3 milhões em patrocínio, o que viabilizou sua execução).

Pois bem, o programa por fim estreou e é, como prometia, realmente delicioso. Ele consegue contemplar duas coisas: a futilidade de uma competição sobre moda (em que se olha e julga as melhores poses, os carões, o estilo, a fotogenia) com uma discussão densa sobre política, uma vez que estamos diante aqui de pessoas historicamente estigmatizadas, postas à periferia da sociedade – e que, por isso mesmo, são calejadas e preparadas para defender a todo instante sua posição no mundo. Nenhuma das modelos parece frívola: todas têm muitas coisas relevantes a dizer e contar.

Por isso mesmo, mal estreou o programa, um trecho de um episódio viralizou em redes sociais e trouxe um destaque instantâneo ao Born to fashion. Falo da cena que exibe a participação do estilista Alexandre Herchcovitch. Ao dar um workshop às modelos, Herchcovitch disse que sempre se sentiu “um pouco travesti”. Frente a isso, o que decorreu em seguida foi uma verdadeira aula.

Uma das modelos, Natt Mati, puxou o coro: “o que é ser um pouco travesti?”. Visivelmente desconcertado, Herchovitch se defendeu: “é ser livre para fazer o que eu quiser, usar o que eu quiser, falar como eu quiser, não é de maneira pejorativa, mas o pouco que eu consigo me transformar naquilo que eu quero eu me sinto um pouco transformador”.

Em suma, estamos diante de mais um relance à sanha do cancelamento que atinge todos os sujeitos que estão hoje no mundo – independente de estarem ou não nas redes sociais.

A resposta não colou. A modelo Luna Ventura emendou: “isso não tem nada a ver com ser travesti. Você é um homem branco cis (ou seja: um homem que se identifica com seu próprio gênero designado em seu nascimento – no caso, o masculino). Não sei da sua sexualidade, mas a gente passa por muita coisa por sermos mulheres trans, travestis. Você falar isso soa muito ofensivo”.

Didaticamente, explicou: “é a mesma coisa que eu falar: eu tenho um amigo gay, que eu adoro, então eu sou um pouco gay. Se eu falasse isso, seria retaliada”. Por fim, a modelo Miranda Luz encerrou: “é para que as pessoas em casa não confundam essa palavra como uma identificação passageira, hoje eu estou um pouco travesti, amanhã não mais” (veja todo o episódio aqui).

O episódio gerou muita repercussão online, e talvez tenha sido benéfica para o programa – fez com que muitas pessoas passassem a conhecê-lo. No entanto, apontou tangencialmente a uma discussão cada vez mais preocupante: o furor com que as pessoas resolveram atacar o estilista nas redes, chamando-o de transfóbico, gay branco, homem cis (neste link, é possível ver alguns tweets que o atacaram). Em outras palavras, houve aqui indícios de que Alexandre Hercovitch teria caído na chamada “cultura de cancelamento”, aquela sanha punitiva em todos nós parecemos à espreita aguardando qualquer deslize para “cancelar” qualquer um que fale alguma besteira. Uma vez que hoje tudo é gravado, há sempre material de sobra para o cancelamento.

O mais curioso deste episódio é que as próprias modelos – as que o confrontaram e o “educaram” – saíram em defesa do estilista em suas redes. Ou seja, a ofensa foi mais repercutida pelos usuários das redes sociais do que pelas pessoas que, teoricamente, ele ofendeu. Todos os envolvidos (estilista e modelos) fizeram posts apontando que a cena exibia uma situação de um diálogo, e não de um “cancelamento”. Lembraram, inclusive, que Herchcovitch tem uma forte participação na luta das transexuais brasileiras: foi um dos primeiros estilistas a convidar mulheres trans para serem modelos em seus desfiles.

Em suma, estamos diante de mais um relance à sanha do cancelamento que atinge todos os sujeitos que estão hoje no mundo – independente de estarem ou não nas redes sociais. Os efeitos dessa “cultura”, como tem sido discutido amplamente, são devastadores: pessoas perdem seu direito à fala e veem ruir, por um deslize, uma repercussão construída há anos (e, vale lembrar, todos estamos propensos a deslizes e erros).

No entanto, eu queria destacar o quanto esta leitura sobre o “polêmico” é destacada pela edição do programa, que faz que o sentido “lacração” seja a chave preferencial para ver o episódio de Born to fashion. A edição, com alta quantidade de efeitos sonoros, força a sensação de suspense e drama. O mesmo acontece em episódios anteriores: sempre que alguma modelo está para fazer alguma declaração controversa (por exemplo, quando uma conta que foi prostituta ou quando outra diz que, na verdade, não é transexual), há novamente a trilha sonora dramática e um corte para o intervalo.

Esta edição pesada (no sentido de forte, sem deixar espaço para que os espectadores façam leituras diferentes do que veem) tira um pouco o brilho do programa, que é, de fato, importantíssimo: traz dignidade para que as pessoas trans se ambientem em um universo, o da moda, que sempre foi excludente). Mais importante de tudo, dá espaço para que elas falem de si mesmas, sem intermediários. Por isso, considero crucial o diálogo das modelos com Herchcovitch: ele tem uma mensagem muito mais clara e produtiva do que qualquer “lacração”.

link para a página do facebook do portal de jornalismo cultural a escotilha

Tags: alexandre herchcovitchAmerica's next top modeloBorn To Fashioncanal E!competiçãocultura do cancelamentoE!Reality ShowTelevisão

VEJA TAMBÉM

Adaptação da obra de Margaret Atwood chegou ao fim após seis temporadas. Imagem: MGM Television / Divulgação.
Televisão

‘The Handmaid’s Tale’ chega ao fim — e deixa um vazio inquietante

24 de junho de 2025
Já cancelada, série apresenta muitos problemas de execução. Imagem: Peacock / Divulgação.
Televisão

‘Teacup’ se equilibra entre uma colher de tensão e uma pitada de frustração

17 de junho de 2025

FIQUE POR DENTRO

Cena de 'Eros', de Rachel Daisy Ellis. Imagem: Reprodução.

Sem pudores, ‘Eros’ aborda a sexualidade brasileira a partir dos motéis

24 de junho de 2025
Adaptação da obra de Margaret Atwood chegou ao fim após seis temporadas. Imagem: MGM Television / Divulgação.

‘The Handmaid’s Tale’ chega ao fim — e deixa um vazio inquietante

24 de junho de 2025
Novo filme faz parte de uma nova trilogia, cuja sequência já foi filmada. Imagem: Columbia Pictures / Divulgação.

‘Extermínio 3: A Evolução’ revisita os escombros de uma nação

23 de junho de 2025
Autora produziu um dos maiores fenômenos literários das últimas décadas. Imagem: Marcia Charnizon / Divulgação.

Por que os leitores amam — e nem toda crítica gosta — de ‘Tudo É Rio’, de Carla Madeira

20 de junho de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.