Baseada em uma história real, a minissérie O Paraíso e a Serpente aposta em algo que as pessoas normalmente têm fascínio e que sempre rende um bom anti-herói para as telas: serial killers. Desde clássicos como Psicose e Seven: Os Sete Crimes Capitais, a séries atuais como Mindhunter e Dexter, os assassinos em série mexem com a nossa mente, despertam uma atração sombria e têm sempre algo que parece estar além da nossa compreensão.
O assassino da vez é Charles Sobhraj: um dos mais perigosos dos anos 1970, mas que poucas pessoas conhecem nos dias de hoje. Sobhraj (interpretado por Tahar Rahim) fingia ser um vendedor de pedras preciosas para roubar passaportes em alguns países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principal alvos viajantes e jovens, que iam para a Ásia em buscas de espiritualidade (e de um bom baseado).
A minissérie revela, em seus oito episódios, quais eram as táticas usadas por Charles, como ele facilmente manipulava as pessoas, inclusive a sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), seu grande esquema de falsificação de identidades e a crueldade de seus crimes. O enredo toma forma a partir do momento em que Sobhraj se depara com uma pedra em seu sapato: o diplomata holandês Herman Knippenberg, o qual inicia uma longa investigação, depois que dois holandeses de férias desaparecem.
Com episódios longos e eletrizantes, a série prende do começo ao fim, principalmente porque o serial killer realmente fez o que a série promete
Como o famoso serial killer Ted Bundy, Charles conquistava os viajantes com o seu carisma, beleza, falsa generosidade e fala mansa. E, assim como Bundy, o narcisismo e a confiança exacerbada é o que faz Sobhraj beirar à ruína.
A narrativa de O Paraíso e a Serpente pode ser descrita como o oposto de cronológica. Os anos vão e voltam diversas vezes durante os capítulos. E, para o telespectador não ficar perdido, são exibidos a data e o ano no canto inferior esquerdo. Todavia, essa técnica subestima o público, sendo que em vários momentos é possível saber o tempo em que a cena se passa, seja pelos personagens presentes, localização ou mesmo vestimentas. O uso de informação adicional é somente necessário em alguns momentos, chegando a ser repetitivo para quem está atento a história.
Já um ponto em que O Paraíso e a Serpente acerta (e muito) é na estética. Transições de cena que parecem gravadas com filme, roupas da época, arquitetura asiática e caracterização do movimento hippie fazem com que tenhamos uma profunda imersão na Tailândia dos anos 1970. A série nos leva a uma época analógica, em que era muito mais fácil ter êxito com roubo de identidades, forjar passaportes e conseguir adulterar provas. Não deixamos de pensar se hoje Sobhraj conseguiria fazer o que fez. A resposta é provavelmente não.
Além disso, a mistura constante de idiomas, como o inglês, francês e tailandês, fazem com que a narrativa ganhe fidedignidade e respeito. Pode parecer óbvio, mas assistir a uma obra em que a língua falada seja a real do personagem representado às vezes é pedir demais para produções da Netflix.
Com episódios longos e eletrizantes, a série prende do começo ao fim, principalmente porque o serial killer realmente fez o que a série promete. Por fim,é importante deixar um aviso: O Paraíso e a Serpente é definitivamente uma série a que não se deve assistir mexendo no celular, pois é necessário olhares atentos e perspicácia de um bom detetive para acompanhar o desenrolar da história.