Bares são refúgios baratos, lugares de passagem, perfeitos para encontros, conversas longas, existenciais, mas também para o papo jogado fora, que tão bem faz às almas de quem os frequenta. Talvez porque essa transitoriedade inata torna o fragmentário intenso, essencial. Em uma mesa de bar, é difícil se esconder, pode-se até tentar, mas as camuflagens de pouco ou nada servem. A nudez veste melhor.
Entre os aprendizados da pandemia, um deles, muito significativo, tem sido a importância do bar para a saúde mental. O pedir licença, as vozes, e assuntos, que se misturam, os olhares dispersos em busca de faróis, de portos onde ancorar, fazem uma falta gigantesca. Vontade de aglomerar e dispersar, rodopiar, entre muitos se misturar e confundir. Há algo profundamente democrático nessa horizontalidade toda.
Um dos estabelecimentos que mais frequentei na vida, em diferentes épocas, em minhas idas e vindas de Curitiba, foi o Café do Teatro, que fechou as portas neste um ano e meio de exceção, que quase já virou regra. Irônico pensar que nunca havia morado tão perto dele, e essa felicidade durou tão poucos meses. Era reconfortante, essa é a palavra, tê-lo na vizinhança, como refúgio.
O Café do Teatro é um lugar onde os artistas se encontravam antes ou depois da cena, do palco, da plateia. Para comer, beber, falar, pulando de mesa em mesa. À vontade, como em casa, na certeza de gastarem pouco e estarem juntos, como num salão de festas. Mesmo quem não era, se sentia um pouco ator, dançarino, diretor, pintor, autor, músico. Ganhar essa sensação identitária era um privilégio.
O Café do Teatro é um lugar onde os artistas se encontravam antes ou depois da cena, do palco, da plateia. Para comer, beber, falar, pulando de mesa em mesa. À vontade, como em casa, na certeza de gastarem pouco e estarem juntos, como num salão de festas.
Por frequentá-lo há muito tempo, mais de 20 anos, indo para 30, vi o tempo passar nas feições de seus frequentadores, que se transformaram, como as minhas. Alguns conheço bem, outros nem tanto. Só de vista, de cumprimentar com os olhos, com um sorriso, às vezes sem saber o nome. Essa familiaridade não tem preço.
O imóvel antes ocupado pelo Café do Teatro está fechado, como tantos espaços nesses tempos de quarentenas e bandeiras intermitentes. Toda vez que passo pela frente, faço, em silêncio, um pedido aos deuses do teatro. Que eles o tragam de volta ao cartaz, à vida. A cidade precisa dele.