Pouco comentada antes da noite de quarta, a estreia de Tiago Leifert e Casimiro nas transmissões da Copa do Brasil no Amazon Prime Video demonstrou falta de entrosamento da dupla.
As partidas transmitidas pela Prime Video sofrem com problemas anteriores. Após apostar nas transmissões esportivas exclusivas como mecanismo de crescimento de sua base de assinantes, o que se viu foram jogos com baixa qualidade de imagem e coberturas engessadas.
Ainda que Leifert não seja consenso no público esportivo e haja quem não compreenda o sucesso do streamer, o casamento, em tese, seria bom. Entretanto, na tela, faltou carisma, também.
Investimento da Prime Video em dupla rendeu pouco
Tiago Leifert, é preciso admitir, rejuvenesceu o jornalismo esportivo e aproximou uma geração mais acostumada às copas inglesas do que ao Campeonato Brasileiro.
O jornalista e antigo global tem uma linguagem muito mais próxima do público que, pouco a pouco, abandonou o futebol tupiniquim para celebrar os gols das estrelas da Premier League. Pesa, ainda, a experiência adquirida com as narrações do game FIFA. Em um cenário cuja cobertura esportiva envelheceu, essa qualidade é ouro.
Não à toa, a transmissão do Campeonato Paulista pela Federação Paulista de Futebol (FPF) no YouTube deu certo. O mesmo Leifert, junto aos ex-jogadores Dodô e Milene Domingues, e ao narrador Chico, do canal de YouTube Desimpedidos, deu frescor às transmissões.
É de se imaginar que, com um pouco de tempo, Leifert e Casimiro consigam se entrosar e entregar partidas mais divertidas.
Mesmo que o trabalho da trupe tenha sido facilitado tamanha a fragilidade do trabalho da TV Record, que assumiu os direitos do Paulistão este ano, havia sinergia e carisma.
Tiago não casou com as narrações na Amazon, pois não é seu forte. Casimiro não funcionou como comentarista, porque sua expertise está na reação a vídeos. E a interação com o público foi semelhante a de emissoras de TV aberta, pouco expressiva.
Ainda que o cenário não tenha sido dos melhores, é de se imaginar que, com um pouco de tempo, Leifert e Casimiro consigam se entrosar e entregar partidas mais divertidas, semelhante ao que ocorreu na cobertura feita pela FPF no YouTube. O futuro, acreditem, é promissor.
“Nativas digitais” dão frescor às transmissões esportivas
Em que pese a qualidade de nomes como Luiz Roberto e Galvão Bueno, emissoras como a TNT Sports (antiga Esporte Interativo) souberam trabalhar o ambiente digital melhor que gigantes como a Globo e demais canais tradicionais.
A partir do fenômeno da segunda tela, as emissoras “nativas digitais” desenvolvem melhor a relação com o espectador, seja pelo uso de hashtags nas transmissões, seja pela troca entre o público e quem conduz os trabalhos televisivos.
O prolongamento de programas e jogos no ambiente digital, permitiu a comentaristas, apresentadores e narradores desenvolver um público próprio. A transmissão, então, já se inicia com uma “rede de interação”.
Por essa razão, não é estranho imaginar que a aposentadoria de Galvão Bueno pode não ser o “fim de uma era” para uma grande parcela de espectadores, afinal, os mais jovens não o acompanharam.
Esse efeito iniciou com o narrador deixando de cobrir competições ao longo da última década e ganhou corpo com o fim dos direitos exclusivos da TV Globo em alguns campeonatos. Porém, foi preponderante o distanciamento do universo digital.
A emissora carioca tentou renovar seus quadros, mas a chegada de Gustavo Villani, um narrador “raiz”, não foi acompanhada de movimento semelhante em seus comentaristas e programas. O movimento acabou por atender mais os antigos, não o público jovem.
O grupo de comunicação carioca tem se esforçado em mudar esse cenário. No YouTube, setoristas dos clubes, torcedores que mantêm blogs no GE e demais jornalistas do grupo têm feito trabalhos de criação de conteúdo exclusivamente digital. A experiência é, claramente, uma tentativa de emular o que já é feito há anos pelo TNT Sports.
Até mesmo programas dos canais esportivos da Globo ganharam espaço na rede social de vídeos. Os trechos que anteriormente eram exclusivos das plataformas da empresa, agora estão disponíveis também nos canais do YouTube. Comentaristas como PVC têm ganhado mais espaço para “atividades digitais”, ainda que pese o atraso e a baixa frequência de suas realizações.
O futebol na televisão brasileira envelheceu, parou no início dos anos 2000. O “padrão Globo” ajudou a estabelecer esse abismo digital, e parece que a emissora, aos poucos, entende que precisa fazer concessões para que sua presença na internet seja marcante. A TV não vai acabar, mas o produto precisa ser melhor trabalho. É a única forma de conter a fuga de espectadores (e, principalmente, torcedores) para os campeonatos internacionais.
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