Talvez Evita Perón tenha sido a mulher mais célebre dentro da política mundial, universo ainda muito restrito aos homens. Primeira-dama do populista presidente argentino Juan Perón, Evita foi uma mulher de carisma extraordinário, e cujo trabalho social trouxe a ela a alcunha de “mãe dos descamisados”.
Evita morreu precocemente de câncer em 26 de julho de 1952, quando tinha apenas 33 anos. Seu marido, Juan, mandou embalsamar seu corpo, com o intuito de construir um mausoléu público em que ela pudesse ser cultuada. Ocorre que, em 1955, com o golpe dos militares, o corpo de Evita foi sequestrado e Perón foi para o exílio na Espanha. Ele só recebeu o corpo da esposa em 1971.
Até aqui, tudo o que se diz nesta história é real. Em 1995, o escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martinez lançou um romance chamado Santa Evita, em que imagina todo o contexto político e pessoal em torno do sumiço do cadáver da primeira-dama. O livro vendeu 10 milhões de cópias em todo o mundo, tornando-se extremamente popular e contaminando a história real da morte de Evita no imaginário de muitos argentinos.

É este romance que inspira a minissérie Santa Evita, da Star+, que tem produção executiva de Salma Hayek e direção de Rodrigo García (que é filho do escritor Gabriel García Márquez e nome proeminente em séries). Narrada em 7 episódios, a produção nos leva a um mergulho na Argentina entre os anos 1940 a 1970, de modo a entender o que significou o peronismo e como aquela fascinante mulher conquistou não só o coração do homem mais poderoso do país, mas de todos os argentinos.
Em uma dramatização com qualidade estética impecável, Santa Evita é um thriller psicológico perturbador em vários sentidos. O que se investiga aqui é, de acordo com a imaginação de Martinez, como o mito de Evita se tornou tão forte que teria hipnotizado homens mesmo depois de sua morte.
‘Santa Evita’: uma adaptação baseada na força do elenco
Santa Evita imagina (uso este verbo aqui pois, conforme mencionado, é difícil precisar o que seria real nesta narrativa, que bebe de vários elementos da história da Argentina) um cenário em que o corpo de Evita foi perfeitamente embalsamado por um médico especialista trazido da Europa para isso, e que passou a se dedicar por anos à conservação do cadáver.
O que se investiga aqui é, de acordo com a imaginação de Martinez, como o mito de Evita se tornou tão forte que teria hipnotizado homens mesmo depois de sua morte.
Mas a história é mais bizarra que isso: os militares teriam mandado um artesão fazer três cópias idênticas do corpo, enquanto decidiam o que fazer com o original. Havia a preocupação em não cedê-lo aos peronistas, uma vez que isso significaria o estabelecimento de um culto ainda maior em cima dessa “santa”. Por outro lado, os militares envolvidos no caso acabaram profundamente perturbados pela missão e no que ela acarretava.
Um dos focos de Santa Evita está em contar a história pregressa da pequena Eva, que sonhava desde pequena com uma vida como artista. Ela é interpretada de maneira muito competente pela atriz uruguaia Natalia Oreiro, que consegue trazer ares mais complexos a Evita – enquadrada de uma maneira que, em certos momentos, sugere que ela tenha tido um tanto de carreirista. Já Perón é encarnado pelo ator argentino Dario Grandinetti, conhecido do grande público por ter participado de Fale com Ela (2002) e Relatos Selvagens (2014)
Contudo, o grande destaque de Santa Evita é, sem dúvida, o general Moori Koenig, vivido com grande dramaticidade pelo ator argentino Ernesto Alterio. Koenig realmente existiu e ficou responsável pela ocultação do cadáver de Evita. Na série, ele aparece como um homem atormentado e obcecado por Evita, por quem nutre sentimentos de amor e ódio. Sem dúvida, é o personagem mais interessante da história.
Santa Evita é a prova definitiva que, 70 anos de sua morte, Eva Perón continua dando margem à imaginação não só dos argentinos, mas de todos nós. Um mito é sempre um mito.
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