Após a primeira temporada de Upload, série original do Prime Video, criada pelo vencedor do Emmy Greg Daniels (de The Office e Parks and Recreation), havia uma sensação um pouco frustrante de que, apesar da leveza transmitida em seus episódios, a produção se encaminharia para uma comédia romântica água com açúcar.
Não sabemos se por sorte ou azar, sua segunda temporada, já disponível na plataforma de streaming da Amazon, optou por um rumo distinto, deixando o romance em segundo plano – o que não significa dizer que ele não receba atenção.
Isso talvez justifique a decepção de parte do público, que fez de Upload o título mais assistido em março no serviço. Particularmente, a trama parece mais interessante, ainda que concorde que essa mudança de rota tenho sido ligeiramente abrupta.
Os novos episódios iniciam com Nathan (Robbie Amell) preso no pacote de 2 gigas, vivendo em um andar inferior de Lakeview, onde ficam mas pessoas com limitação de dados, desde que decidiu acabar com o romance com Ingrid (Allegra Edwards).
A tentativa de Greg Daniels em manter-se isento nas críticas que apresenta coloca seu texto sob uma perspectiva bastante pedante.
Nora (Andy Allo) segue procurando formas de garantir que seu pai, que sofre com a saúde, tenha oportunidade de viver seu pós-vida em Lakeview, mas seus constantes questionamentos à estrutura da organização fazem com que ela se junte com um grupo de rebeldes anti-tecnologia, os Ludds.
Daniels usa essas pessoas para compor uma série de críticas que atinge diferentes perfis. Enquanto questiona o uso excessivo de tecnologia em nosso dia a dia, e a maneira como o capitalismo favorece as segregações e privilegia determinadas classes sociais, também constrói seus “antagonistas” de modo caricato.
Os Ludds (inspirados nos ludistas ingleses) rejeitam a maiorias das tecnologias modernas, optam por alimentos orgânicos e conversas ao vivo. Eles claramente se opõem ao fato de que empresas como a Horizen, dona de Lakeview, permitam a ricos viver vidas luxuosas, enquanto relega os pobres à morte ou à limitação de dados.
Esse talvez seja o maior problema de Upload em sua segunda temporada. A tentativa de Greg Daniels em manter-se isento nas críticas que apresenta coloca seu texto sob uma perspectiva bastante pedante.
A nova temporada é menor (apenas 7 episódios), o que obriga a equipe de roteiristas a condensar muitas informações. Este fato, então, implica em que alguns elementos sejam perdidos.
Se o primeiro ano se concentra no triângulo amoroso entre Nathan, Ingrid e Nora, a nova temporada esquece a química entre os personagens de Amell e Allo muito abruptamente.
A opção criativa retirou o aspecto que mais cativou parcela considerável do público, concentrado a trama mais na política, inserindo novos personagens que parecem perdidos, desconectados das premissas iniciais do programa. Upload virou uma espécie de Robin Hood moderno.
Ao fim e ao cabo, os novos episódios tem algo de interessante, mesmo deixando de lado a possível história de amor entre Nathan e Nora. A luta de classes, mesmo que entre caricaturas, é um debate pouco visto das produções contemporâneas na TV norte-americana.
Todavia, fica o questionamento sobre a necessidade de parar de explorar o que é viver em um mundo totalmente digital e as consequências de uma relação virtual. Upload foi renovada para uma terceira temporada. A ver o que Daniels tratá para este novo ciclo.
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