Uma das séries da Netflix mais aguardadas chegou à plataforma na última sexta-feira. O Clube da Meia-Noite foi adaptado pelas mãos de Mike Flanagan (de A Maldição da Residência Hill), a partir de obra de mesmo nome do autor Christopher Pike.
Não publicadas no Brasil, as obras de Pike são um marco da literatura jovem nos Estados Unidos. Guardadas as devidas proporções, algo na mesma toada da Série Vagalume, mas com tons de terror.
Com premissas e enredo quase semelhantes, a série tomou alguns caminhos diferentes, com o objetivo de encaixar melhor no formato televisivo, segundo o próprio Flanagan. São 10 episódios que acompanham um grupo de adolescentes em uma clínica para jovens com doenças terminais.
Naquele local, todas as noites, à meia-noite, eles se reunem para contar histórias de terror. Há entre eles um pacto: o primeiro que morrer deve encontrar uma forma de se comunicar, para contar aos outros como é o além.
https://www.youtube.com/watch?v=HVQI08riK4Q
Ambientado em 1994, o programa tem em Ilonka (Iman Benson) sua protagonista. Ela chega à clínica Brighcliffe após receber um diagnóstico de câncer terminal, pouco antes de completar 18 anos.
Inconformada com seu diagnóstico, a garota passa a mergulhar na busca por formas de tentar se curar. É assim que descobre a clínica para jovens em situação terminal, em que uma outra adolescente teria se curado da mesma doença que ela.
Após se mudar para o local, conhece os demais adolescentes e, mesmo com a animosidade de alguns integrantes, passa a fazer parte do “Clube da Meia-Noite”. Este é o nome que dão à reunião que realizam todos os dias, à meia-noite, para contarem histórias de terror ao redor de uma lareira, enquanto esperam que algum deles chegue ao fim da vida para cumprirem seu pacto.
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Nem todas as histórias compartilhadas funcionam bem, enquanto algumas são simplesmente desnecessárias.
A angústia de Ilonka com a iminente morte a leva a apostar em homeopatia, na amizade com a vizinha hippie Shasta (Samantha Sloyan), mas principalmente no lado oculto da clinica.
Há um cuidado interessante da equipe de produção do show em não reduzir os personagens a seus diagnósticos. Mesmo que as lágrimas ocorram e eles sofram com suas doenças, suas personalidades são muito mais complexas que as razões para estarem ali.
Dividem tela personagens abertamente gay, vivendo com HIV e uma super cristã, por exemplo. Ainda que tensões surjam eventualmente, não é por aí que Mike Flanagan deseja transitar.
Na casa, Ilonka passa a conviver com visões de uma velha senhora, que lhe repete que “tem fome”. O vislumbre desse fantasma é angustiante à garota, que não consegue entender se aquilo é parte da doença ou uma assombração real.
História da estrutura é melhor que os contos do clube
Ilonka não é a única a conviver com a presença de espíritos. Kevin (Igby Rigney), Anya (Ruth Codd) e Amesh (Sauriyan Sapkota), por exemplo, também convivem com o fato, mesmo que se esforcem em negar.
A trama principal, oriunda do livro e que dá a estrutura da série, é, certamente, a melhor parte de O Clube da Meia-Noite, e o que mais arranca arrepios ao longo dos 10 episódios da primeira temporada.
Em contrapartida, na tentativa de unir diferentes trabalhos do autor e prestar homenagens a seu trabalho – precisamos sempre lembrar que é uma adaptação de um autor marcante para quem foi jovem nos Estados Unidos entre os anos 1980 e 90 –, oferecem alguns momentos desinteressantes.
Flanagan e a Netflix vasculharam as mais de 80 obras de Christopher Pike para inseri-las nos contos compartilhados pelo grupo. Esse talvez seja o ponto baixo da série. Nem todas as histórias compartilhadas funcionam bem, enquanto algumas são simplesmente desnecessárias.
O ponto fundamental da produção é conseguir emaranhá-las, de maneira que, coletivamente, façam algum sentido, por mais imperfeitas que sejam. Leva um tempo para o espectador compreender o desejo dos produtores. É uma tentativa dos personagens compartilharem o fim que imagina que terão – ou que merecem. Seus temores são projetados em fantasmas e demônios.
Ao fim dos 10 episódios, O Clube da Meia-Noite deixa muitas perguntas sem resposta, num claro gancho para uma segunda temporada. Resta ver a recepção do público para descobrir se ganhará um novo ano.
‘O Clube da Meia-Noite’: o livro x a série
Com uma extensa carreira, Flanagan e a Netflix optaram por colocar a trama central de O Clube da Meia-Noite mais próxima do enredo do livro, mas aglutinar outros trabalhos de Christopher Pike nos contos de terror que os adolescentes compartilham.
No livro, são cinco jovens, já na série há oito personagens. Segundo o criador do seriado, como o programa incorpora elementos de outros livros de Pike, fazia mais sentido uma gama maior de pessoas.
Outra mudança, essa mais simbólica, está no nome da clínica. Enquanto no livro ela se chama Rotterham Home, no seriado da Netflix Flanagan batizou de Brightcliffe. Aliás, há alguns easter eggs escondidos nos episódios que se conectam com outros trabalhos do diretor e criador de O Clube da Meia-Noite.
Entre eles, é possível ver o Lasser Glass, o espelho antigo que assombra os personagens de O Espelho, longa-metragem de horror dirigido por Flanagan. Mesmo as vozes dos atores Hamish Linklater, Carla Gugino e Kate Siegel, que atuam em outros trabalhos do diretor, podem ser ouvidas.
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