Lançado há cerca de duas semanas, Blue Rev é muito mais do que o terceiro disco da banda canadense de indie rock Alvvays.
Atrasado pela pandemia de coronavírus, o registro se valeu do maior tempo para lapidação do trabalho, entregando como resultado um passeio mas complexo e desafiador, além dos limites do que o indie rock já havia produzido até então.
O grupo, surgido em 2011, é marcado por uma identidade bastante intrigante, buscando equilibrar sua sonoridade entre o power pop, o shoegaze e o indie, que encontra em Blue Rev seu ponto máximo de vibração e expansão.
É difícil não se ver enredado pelos temas e pelas instrumentações elegantes que a banda apresenta. A vocalista e líder da banda, Molly Rankin, está mais eloquente do que nunca, acompanhada da pungente e sinérgica companhia dos colegas de banda.
Não é um trabalho fácil tratar solidão, amor e melancolia sem resvalar no pieguismo, mas o quinteto se vale da profundidade lírica.
Ao The New York Times, Ranking afirmou que Blue Rev seguiu à risca seu processo criativo: escrever cada música como se fosse a última, ao que considera um atributo de sua personalidade e não um método de trabalho.
O disco empresta nome de uma bebida alcoólica que Molly consumia quando era adolescente, o que denota essa eterna sofisticação emocional da Alvvays, ligada diretamente à essência do que os formou enquanto artistas e pessoas.
Blue Rev parece, realmente, uma montanha-russa emocional, que percorre ondas sonoras nítidas de maneira grandiosa e variada. Como a cantora afirmou em entrevista, é seu prazer ser doce, mas também tratar dores e acrescentar peso emocional ao que canta.
Comum na trajetória do grupo canadense, o disco apresenta faixas que trafegam pelo indie rock e pelo shoegaze, essencialmente, mas com esferas bastante variadas.
Esse parece ser um reflexo direto do trabalho com o produtor Shawn Everett, que levou a Alvvays a romper com velhos hábitos e refinar processos até chegar a uma dinâmica musical menos intrincada.
Não é um trabalho fácil tratar solidão, amor e melancolia sem resvalar no pieguismo, mas o quinteto se vale da profundidade lírica, da inteligência de suas composição, mas, também, do vigor musical do grupo.
O trabalho conjunto de Molly e Alec O’Hanley permite ao Alvvays se desviar do que o gênero geralmente faz. Eles parecem pouco interessados em que as canções de Blue Rev soem uma ideia fixa, uma rota que pega uma emoção e segue em linha reta, pelo contrário.
Somos convidados a ser parte do emaranhado que é a mente de uma pessoa adulta. Não se trata de bagunça, mas de uma representação mais honesta e próxima das múltiplas realidades e pensamentos que permeiam a mente humana.
Desde “Belinda Says”, o single que criou o cenário para o lançamento de Blue Rev, que Rankin brincava com a incerteza da mudança. Outras músicas, como “Pomeranian Spinster” e “Lottery Noises”, também trabalham tons contrastantes e repletos de uma entrega emotiva, como devaneios da mente criativa da dupla.
Muito se pode dizer de Blue Rev, sobre as cargas emocionais trazidas e a robustez melódica do disco. Todavia, o ponto central de qualquer análise deveria se debruçar, especialmente, sobre a capacidade do álbum em oferecer algo novo em um gênero tão carcomido pelo tempo.
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