Há uma espécie de subgênero que talvez seja meio escanteado na literatura, mas que é um dos meus favoritos: livros que nos transportam para dentro de sessões de terapia de outras pessoas. E aqui, em momento algum sugiro uma aproximação (ao menos não óbvia) com o tão menosprezado gênero da autoajuda.
Na maior parte das vezes, aliás, estas são obras que nos fazem espiar no processo doloroso (para analisando e analisado) em que pessoas com sofrimentos terríveis tentam encontrar algum tipo de alívio. Eventualmente, nós, os leitores, aprendemos alguma coisa.
Talvez o nome mais popular deste estilo seja o do terapeuta e escritor americano Irvin D. Yalom, que ficou mundialmente conhecido pela sua obra Quando Nietzsche chorou. Por ser um autor best-seller, talvez ele tenha entrado no radar dos autores postos sob desconfiança.
Mas convido a você, leitor deste texto, a superar o cinismo e dar uma chance à suas obras – as do doutor Yalom e de vários outros escritores/ terapeutas que seguiram este caminho. Vejamos algumas indicações para quem quer desfrutar de uma sessão de terapia vicária.
‘Histórias de Divã – Oito Relatos de Vida’, de Gabriel Rolón
Estas são obras que nos fazem espiar no processo doloroso em que pessoas com sofrimentos terríveis tentam encontrar algum tipo de alívio.
Um dos primeiros livros deste tipo que li foi Histórias de Divã, que me arrebatou logo no primeiro capítulo. A obra traz oito casos reais tratados pelo psicanalista argentino Gabriel Rolón. Eles abordam temas duríssimos para a análise, que causam enorme sofrimento aos clientes, como o ciúme, os traumas, a infidelidade, a culpa, a falta de desejo sexual.
Somos levados a acompanhar as sessões sob os olhos do próprio terapeuta, que lida consigo mesmo e com suas próprias dúvidas ao lidar com todas as pessoas que compartilham suas vidas com ele.
‘Talvez Você Deva Conversar com Alguém’, de Lori Gottlieb
Vale lembrar aqui que o fato de um livro se tornar best-seller não significa que ele seja raso, ainda que muitas vezes imaginemos que sim. Nesta obra já bastante famosa, a terapeuta Lori Gottlieb compartilha a história da sua vida (incluindo detalhes muito íntimos) para evidenciar a sua relação com o seu oficio e como os afetos ocorridos no consultório a envolvem profundamente. Em meio a tudo isso, ela compartilha as histórias de algumas das pessoas que acompanhou ao longo dos anos.
‘O Carrasco do Amor’, de Irving D. Yalom
Esta é a primeira obra que li do doutor Yalom, e que me motivou a procurar seus outros livros. Ele apresenta aqui dez histórias, cada uma centrada em um caso real de terapia. O mais impactante, penso eu, é o primeiro, que dá título ao livro, e analisa o processo terapêutico de uma cliente de 70 anos que o procura por estar completamente apaixonada (por uma impressionante clareza sobre isso) por um terapeuta que teve no passado, mas que não quer nada com ela. A mulher busca alguma luz – caso não obtenha, está decidida que vai se matar. A narrativa é construída de forma magistral por Yalom, tornando-se cada vez mais tensa à medida que se encaminha para o fim.
‘Sexoterapia’, de Ana Canosa
A psicóloga brasileira Ana Canosa é um dos grandes nomes que temos na área da sexologia. Suas colocações (que podem ser ouvidas semanalmente no podcast Sexoterapia) são de uma lucidez invejável, ao mesmo tempo que conseguem tocar em questões muito profundas de pessoas de todos os gêneros. Nesta obra, ela traz casos de terapia enfrentados por clientes atendidos por ela, que aborda suas histórias de maneira que mescla um relato muito comovente, mas ainda assim com a leveza do humor.
‘Mentiras no Divã’, de Irving D. Yalom
Incluo este romance ficcional na lista por tratar de uma abordagem interessantíssima. Aqui, Irving D. Yalom investiga o processo da terapia como uma espécie de jogo entre analistas e pacientes, em que se atravessam diversos interesses, arrogâncias e mentiras. Possivelmente será a obra com os terapeutas mais humanos que você conseguirá encontrar.
‘Medo da Vida’, de Alexander Lowen
Esta obra, do terapeuta americano Alexander Lowen (que era um discípulo da linha bioenergética de Wilhelm Reich) é já um clássico. Quem já leu sabe: ele é capaz de desestruturar muitas convicções pessoais que temos e do que fazemos (ou não fazemos) por conta do medo. Ele vai desenvolver as análises sobre pacientes que atendeu em um ensaio que é permeado pelo mito de Édipo, que é central dentro do pensamento de Sigmund Freud.
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