O humor norte-americano tem se refinado nos últimos anos. Aqui no A Escotilha, já fizemos uma matéria abordando justamente as comédias inteligentes (leia aqui). Foi apostando nisso que a HBO lançou The Brink, uma comédia com a assinatura de Roberto Benabib, conhecido pelo seriado Weeds, do qual foi produtor executivo e roteirista. Para dar peso ao elenco, convocou Jack Black, Tim Robbins e Pablo Schreiber (o Bigode de Orange is The New Black).
A premissa de The Brink é bem simples: satirizar a política internacional do Tio Sam. Para isso, é utilizada uma suposta crise geopolítica que envolve a vida de três personagens: Alex Talbot (Jack Black), um simples funcionário do serviço diplomático dos Estados Unidos; Walter Larson (Tim Robbins), Secretário de Estado norte-americano; e Zeke Tilson (Pablo Schreiber), um piloto de caça da marinha norte-americana.
O personagem de Tim Robbins não causa tanta surpresa, posto que programas como o Saturday Night Live vem há anos fazendo piada com os poderes Legislativo e Executivo do país. Interpretando um Secretário de Estado mulherengo, viciado em sexo e alcoólatra, Robbins dá vida a um político arrogante e com paciência zero. Vivendo um casamento de fachada, utiliza seu cargo prioritariamente como atrativo de mulheres.
Pablo Schreiber e seu Zeke Tilson são, sem sombra de dúvidas, a maior surpresa de The Brink. Recém-saído de Orange is The New Black, para a qual, segundo notícias na imprensa, não deve retornar, Schreiber ficou marcado por seu personagem misógino, machista e preconceituoso na série da Netflix. Contudo, o ator mostra versatilidade ao construir um piloto de caça corrupto que, para dar conta de sustentar sua família, comercializa medicamentos regulados sem prescrição médica dentro da própria Marinha dos Estados Unidos.
Pablo Schreiber e seu Zeke Tilson são, sem sombra de dúvidas, a maior surpresa de The Brink.
Este personagem, de forma particular, poderia passar despercebido de nós, brasileiros. Contudo, com o crescente número de norte-americanos deixando as forças armadas questionando a remuneração e as condições degradantes de serviço às quais são submetidos, o papel ganha relevância, sendo, talvez, o que cause mais afronta ao espírito bélico dos Estados Unidos.
A pontinha negativa em The Brink é Jack Black e seu personagem. Black parece – já há alguns anos – preso em uma representação de si mesmo. Seus personagens acabam sendo sempre muito caricatos, com gestos e expressões muito semelhantes. Seu humor sarcástico, por vezes, dá as caras na série, mas de forma tão tímida que quase desperdiça um personagem interessante ao contexto da série.
Alex Talbot é um Zé Ninguém dentro da política norte-americana. Trabalhando no serviço diplomático no Oriente Médio, acaba sem querer se envolvendo em um incidente com um insurgente do governo paquistanês. Torna-se, então, o fio condutor do enredo ao longo dos 10 episódios da série – que já foi renovada para uma segunda temporada em 2016. Por isso, os deslizes de sua atuação, sem grandes novidades ao já apresentado em sua carreira, tornam a série um pouco arrastada, especialmente no episódio piloto.
Para nossa sorte, não apenas Robbins e Schreiber conseguem dar mais dinâmica ao seriado. Os coadjuvantes também ganham espaço, proporcionando momentos cômicos, com destaque para Aasif Mandvi (de Jericho), Maribeth Monroe (de Parks and Recreation) e Iqbal Theba (de Glee).
Se havia quem se chocasse com a brilhante Veep (leia aqui) e sua representação nada amistosa dos políticos norte-americanos, decerto The Brink (mesmo que sem tanto brilho) deixará outros tantos boquiabertos com suas críticas ácidas e bem direcionadas às políticas externas da pátria de Barack Obama.