Não é surpresa, muito menos uma questão condenável, que vários artistas se inspirem nos grandes mestres – aqueles que moldaram a história da arte como é hoje – para traçar suas próprias trajetórias. Vá a uma pequena galeria ou a um grande museu de arte contemporânea e tente não encontrar um mundo de referências a Picasso, Andy Warhol, Frida Kahlo e outros nomes englobados pela cultura pop. Seria uma tarefa difícil.
Neste grande hall da fama da arte, o pintor austríaco Gustav Klimt também não fica muito atrás. São inúmeras as canecas, pôsteres, imãs de geladeira e até mesmo toalhinhas de cozinha estampadas com suas obras. Olhos atentos com certeza também já se depararam na internet, seja por intermédio de redes sociais, sites de notícia ou até mesmo filmes, com “The Kiss” ou o retrato de Adele Bloch Bauer. Então, por que – diferente de outras celebridades da arte – é difícil encontrar referências claras ao seu trabalho nas obras de outros artistas? Mesmo o que há de similaridade entre seu trabalho e os movimentos Surrealista e Expressionista pode ser fruto do acaso: acredita-se que os artistas daquela época não poderiam ter acesso ou conhecimento de suas obras, já que Klimt foi relativamente esquecido no decorrer do século XX.
A sua influência sobre outros artistas se deu de maneira mais abstrata; mesmo seus mentorados, Egon Schiele e Oskar Kokoschka, apesar de deverem significativos passos a Klimt, eventualmente se desviaram de seu estilo para encontrar o próprio.
Não foi o acaso que eternizou a arte de Klimt única: uma série de fatores influenciaram seu status inimitável, desde sua personalidade até o tempo em que viveu.
No entanto, não foi o acaso que eternizou a arte de Klimt única: uma série de fatores influenciaram seu status inimitável, desde sua personalidade até o tempo em que viveu. O pintor arrebatava Viena justamente virada do século, onde o antigo e o novo, o real e o abstrato combinavam-se e davam boas-vindas à arte moderna.
Inserido no movimento da art nouveau, quando analisamos seus quadros esteticamente, poderíamos até ter a ilusão de encontrar muito mais similaridades com o mundo atual do que com a vida de um milênio passado. Poucos artistas, inclusive até hoje, conseguiram buscar e aperfeiçoar o aspecto metálico tão apelativo das pinturas de Klimt. Sua habilidade única em criar a ilusão de metais, pedras e jóias através da tinta também o tornou singular.
Com obras de cunho altamente pessoal, emaranhadas em relações particulares – eram muitos os rumores a respeito de supostos relacionamentos com suas musas e assistentes -, Klimt foi considerado diversas vezes indecente e imoral para a época: um pouco antes de pintar “The Kiss”, sua carreira ia ladeira abaixo sob acusações de apologia à pornografia. Quem se atreveria a segui-lo, com um estilo tão destoante da época e com a Primeira Guerra Mundial batendo à porta?
Sendo a mulher seu objeto principal de estudo, é fácil também perceber que seu sucessor definitivo provavelmente não viveria em tempos atuais, já que a arte contemporânea em geral caminha cada vez mais na direção da arte conceitual, uma arte que preza pelo individualismo e pelas ideias. Embora seu reconhecimento e fama sigam inabaláveis até hoje, por ser uma pessoa reservada, a profundidade e o simbolismo de seus retratos femininos ainda jazem um enigma.
Inimitável, Gustav Klimt se firmou como referência na história da pintura por ter abraçado e ido além do período histórico de fortes mudanças na sociedade de sua época, expressando sua criatividade da maneira que bem entendia. Quem mais, até mesmo nos dias de hoje, desfrutaria inconsequentemente da mesma coragem?
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