O evento que mobiliza o universo da arte em Curitiba chega aos 24 anos de história com uma programação extensa, que engloba mais de cem locais diferentes pela cidade.
A autora que vos escreve, portanto, dedicará as próximas colunas para que você não fique perdido e tenha a oportunidade de conhecer todas as obras incríveis presentes em Curitiba.
Não sabe por onde começar? Não sabe quais os espaços culturais participantes da Bienal de Curitiba ou quem são os grandes artistas expondo? Então venha cá, porque hoje vou falar do Solar do Barão, que engloba o Museu da Fotografia e o Museu da Gravura. Semana passada falamos das exposições do Museu Oscar Niemeyer.
Solar do Barão
Englobando o Museu da Fotografia, da Gravura, do Cartaz, a primeira Gibiteca do Brasil e diversos ateliês voltados para o aprendizado artístico de estudantes, o Solar do Barão é um importante polo de arte na cidade, que felizmente não ficou de fora do circuito oficial da Bienal.
Lá, podemos encontrar as exposições Além da Fotografia, “O Museu é feminista” e outras esperanças sobre o futuro e parte das obras do Circuito Universitário da Bienal de Curitiba – Cubic.
Em “O Museu é feminista” e outras esperanças sobre o futuro, no Museu da Fotografia, encontramos quatro obras do coletivo anônimo e norte-americano Guerrilla Girls.
As ativistas feministas surgiram nos anos 80 para discutir gênero e vícios étnicos dentro dos museus, bem como corrupção na arte, no cinema e no entretenimento.
O coletivo sobrevive até hoje com centenas de projetos e parcerias em todo o mundo, já tendo obras expostas em museus de prestígio, como o Met, em Nova Iorque. A exposição é de curadoria da paranaense Carolina Loch, ganhadora do prêmio jovem curadora da Bienal.
Apesar da importância do debate proposto pelas Guerrilla Girls – o sexismo dentro da comunidade artística -, a exposição falha um pouco em trazer mais profundidade à discussão: talvez pela pouca quantidade de obras do coletivo expostas, talvez pela mesmice liberal no discurso da curadoria.
Apesar da importância do debate proposto pelas Guerrilla Girls – o sexismo dentro da comunidade artística -, a exposição falha um pouco em trazer mais profundidade à discussão.
Ou seja, a ida a O museu é feminista, embora interessante devido a toda a bagagem e importância histórica do coletivo, dá um gosto de “quero mais”, tanto no sentido quantitativo quanto na abordagem curatorial. Entretanto, a exposição ainda vale sua visita, visto que não há sempre a oportunidade de encontrar Guerrilla Girls tão pertinho de nós.
Ainda no Museu da Fotografia, encontramos também a mostra Além da Fotografia, curada pelo paraguaio Ticio Escobar, convidado responsável pelo conceito curatorial da Bienal de 2017. A exposição traz as fotos do paulista Rodrigo Petrella, tiradas em diversas aldeias indígenas da região amazônica.
Segundo a curadoria, as obras de Petrella vão além da fotografia por três motivos: por mobilizar formas estéticas como penachos, pinturas corporais, rituais e coreografias como arte; por oscilar entre o documental e o propriamente expressivo e por transcender a ordem do registro e da expressão estética.
Embora delicado, o que vemos na mostra não é um homem branco se apropriando da cultura indígena. Vemos um registro da vida e do dia-a-dia desses nativos na Amazônia; nada parece ensaiado ou posado.
Há ainda um apelo político em prol dos direitos da diversidade, explorando a visibilidade de pessoas tão omitidas da realidade social brasileira. Além disso, a qualidade fotográfica por si só não deixa mesmo a desejar. Recomendadíssimo.
Por fim, porém não menos importante, no Museu da Gravura, ainda no âmbito do Solar do Barão, temos uma seleção incrível das obras do Circuito Universitário da Bienal de Curitiba (a seleção de artistas do CUBIC se fragmenta também em mostras no Museu de Arte Municipal e no museu DeArtes da UFPR), com curadoria de Stephanie Dahn Batista.
A parceria da Bienal de Curitiba e do projeto CUBIC entra em 2017 na sua terceira edição, mostrando-se ainda mais necessária no conturbado contexto político-cultural atual, abrindo e gerando espaços de visibilidade para a jovem geração artística em formação.
A equipe do CUBIC evidencia ainda quão importante é para esses estudantes universitários uma experiência profissional de exposição com publicações de catálogo e guia: apesar de ser um circuito universitário, o CUBIC exige procedimento profissional, com edital público, portfólios, grupos de trabalho e premiações.
Destaco aqui dentro do circuito CUBIC no Solar do Barão a instalação interativa do artista Lennon Bruno, a vídeo-arte techno-punk de João John, as foto-colagens de Marcela Belz, a instalação multimídia de Lucas Alameda e a perfomance de abertura de Erica Storer Araújo, Repetidamente Repetente. Endosso também a qualidade do trabalho desses artistas, cujo talento parece estar à altura criteriosa de uma curadoria de gente grande.
Na próxima semana será dada uma breve pausa em “Vamos falar de Bienal” para discutirmos o contexto político atual da cultura no Brasil. A Bienal Internacional de Curitiba segue até o dia 25 de fevereiro na cidade, mas não é desculpa para você deixar para ir na última hora.
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