“Cheguei mesmo a me perguntar se toda obra humana não é provisória – mesmo um quadro, mesmo uma estátua, mesmo uma obra arquitetural, mesmo o Partenon. Seja qual for a solidez do Partenon, o que resta dele é muito pouco e não temos nenhuma idéia do que era quando acabara de ser construído. Mesmo o que resta vai desaparecer”.
A frase acima é de autoria do cineasta francês Jean Renoir, em entrevista a revista Cahiers du Cinemá, em 1958. À ocasião, Renoir falava sobre a efemeridade da arte, e não apenas do cinema. A arte contemporânea exige de nós, seus contempladores, um esforço mental para gravar em nossas memórias o que se configura diante de nós.
Existe, então, uma certa efemeridade nesta contemporaneidade da arte. Contudo, seu fim não significa o seu sumiço por completo. A arte não deixa de existir totalmente, posto que nossa memória age como um eternizador de sua essência enquanto conceito.

O artista curitibano Tom14 é o responsável pelos painéis multicoloridos que tomaram conta da Rodoviária de Curitiba. O projeto, uma realização da Urbs, Bienal Internacional de Curitiba e Tintas Coral (através do projeto Tudo de Cor para Você) se espalhou pelos ambientes do terminal que recebe cerca de 30 mil pessoas diariamente.
Tom14 é um artista da street art. O curitibano, que depois de alguns anos morando na Espanha retornou ao Brasil, usou parte de seu trabalho +amor como inspiração para o que é possível ser visto por lá.
Sua arte é uma celebração da vida urbana, da forma particular como ele enxerga as cidades, através da apropriação do espaço como uma forma de conquista.
A efemeridade de sua arte – compreendida enquanto trabalho e/ou intervenção artística temporária -, neste contexto, é posta à prova através de quem é pego em um momento de transição e é surpreendido pela quebra dos planos cinzas da metrópole.
A arte de Tom14 é uma celebração da vida urbana, da forma particular como ele enxerga as cidades, através da apropriação do espaço como uma forma de conquista.
A agitação do mundo globalizado cria certos fragmentos na vida dos que cruzam cada canto da cidade; não há tempo suficiente para que estes fragmentos se tornem tradição. Segundo o historiador Pierre Nora, “os lugares de memória são símbolos, restos”. No caso da arte efêmera, “a obra de arte não pode ser considerada lugar de memória, pois é etérea, então a memória relacionada a ela precisa de novas bases para continuar existindo”. É possível ver, então, o quão fundamentais são esses cerca de 30 mil imaginários que se cruzam no ir e vir de um terminal rodoviário na arte de Tom14.
Nem tudo na arte contemporânea é pensado para que seja conservado, cabendo as fotos a responsabilidade de eternizar esta parte do legado cultural, sendo seu único registro visual. Mas segundo Marcelo Abreu, gerente de marketing institucional das Tintas Coral, a intenção é que o trabalho de Tom14 seja “um legado de arte de rua para a cidade de Curitiba”.

Talvez mais que um legado, o trabalho de Tom14 na Bienal Internacional de Curitiba tenha o importante papel de aproximar realidade e público.
A cidade é assumida como um espaço poético, muito além das questões físicas e culturais da cidade, fazendo com que Curitiba ressurja em um novo contexto contemporâneo, frente à violência urbana, aos encontros e despedidas, ao descaso com a arte, com o artista e com, porque não, nossa própria realidade limitada.
Fica a pergunta: o que restará então desta obra de arte em nossos corações e mentes?
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