Mostra Bancos Indígenas do Brasil é recorte de algo maior. Nascida de um deslumbramento estético, a Coleção BEĨ de bancos indígenas abrange mais de 500 peças com origens de diferentes povos e regiões.
Referência em arte indígena brasileira por sua extensão e importância, o acervo chegou ao Museu Oscar Niemeyer (MON) sob curadoria de Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim, da BEĨ Editora.
A editora foi projeto iniciado nos anos 1990 e desde seu surgimento prezou pelo compromisso com a qualidade no debate e na educação, mantendo um catálogo formado por livros de arte, design, fotografia, gastronomia, arquitetura, urbanismo e economia.
A coleção foi justamente um resultado desse engajamento e serviu para estreitar os laços entre a editora e os povos originários do país. De seu acervo, com peças vindas dos Alto e Baixo Xingu, sul da Amazônia, Centro-Oeste, norte do Pará, Guianas e noroeste amazônico, aproximadamente 200 bancos, provenientes de 40 etnias, ocupam a sala 6 do MON até o mês de setembro.
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Dividida em duas partes, a exposição Bancos Indígenas do Brasil tem uma primeira parte dedicada à produção da Terra Indígena do Xingu, no Mato Grosso, e a segunda com demais povos indígenas de várias partes da Amazônia. Somam à mostra um banco de origem de etnia de Santa Catarina e seis grandes imagens feitas pelo fotógrafo Rafael Costa.
A coleção foi justamente um resultado desse engajamento e serviu para estreitar os laços entre a editora e os povos originários do país.
As obras mostram um olhar muito específico sobre a relação dos povos originários com o ambiente, a natureza e suas próprias relações sociais. Cada peça da exposição indica e revela a diversidade de formas e desenhos, que replicam formas animais ou são concebidos como modelos rígidos quanto à geometria das formas. Mesmo com suas diferenças, são idênticos no eixo frente/costas e lados direito/esquerdo[1].
O conjunto é um espelho da diversidade dessas populações e evidenciam a pequenez das tentativas do homem branco de resumir toda complexidade a uma única terminologia. O público fica diante de diferentes tradições, leituras e reflexos de suas próprias identidades e tradições.
Em algum medida, há necessidade do controle da admiração de do próprio deslumbramento que cobre essa relação, para impedir o manto do paternalismo sobre aquelas existências. Ou, nas palavras da diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, “podemos alongar o olhar sobre a sua imensa contribuição em variados aspectos da cultura”[2].
Conexão entre ‘Bancos Indígenas do Brasil’ e Poty Lazzarotto
Fica a sugestão ao visitante de Bancos Indígenas do Brasil que estenda seu passeio no Museu Oscar Niemeyer pelo acervo da instituição. Na coleção de Poty Lazzarotto, incorporada no último aniversário de Curitiba, há gravuras de bancos indígenas feito pelo artista.
As artes são fruto da temporada que Poty passou no Xingu, durante a década de 1960. À época, o artista já era renomado[3] e possuía até mesmo experiência nos grandes centros europeus.
Mas foi sua ida ao Xingu, em 1967, que propiciou a ele a oportunidade de realizar uma série de gravuras cuja simplicidade dos traços é marca. Em um caderno de papel jornal, mostrou todo seu poder de síntese.
Contornos, os detalhes geométricos, tudo denota o domínio da forma e da técnica de Lazzarotto, que parece ter se valido da mais pura antropofagia para tomar consciência de um universo com um mínimo de distanciamento, mas que impactaram com grande intensidade e foram incorporados ao seu trabalho.
SERVIÇO | Bancos Indígenas do Brasil
Onde: Museu Oscar Niemeyer, R. Marechal Hermes, 999 | Centro Cívico, Curitiba/PR;
Quando: de 23/06 a 30/10, de terça a domingo, das 10h às 17h – entrada até 17h30;
Quanto: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada); às quartas-feiras, entrada gratuita.
Mais informações no site do MON clicando aqui.
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[1] Cristiana Barreto, em “Bancos indígenas: entre arte e artefato”
[2] Juliana Vosnika, em Museu Oscar Niemeyer
[3] Nilza Procopiak, em Bem Paraná
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