Desde o dia 7 de julho, Ascânio MMM está com a exposição Grid no Museu Oscar Niemeyer (MON). Ascânio é um dos principais representantes do abstracionismo geométrico, vertente artística pautada na geometria das formas e no racionalismo.
São cerca de 25 obras em grande escala, um recorte dos últimos 25 anos de trabalho, que representa o diálogo que o artista procurou desenvolver desde o início de sua carreira com a escultura e a arquitetura.
Ascânio MMM: entre movimentos e poesia
Nascido em Fão, província de Minho, em Portugal, no ano de 1941, Ascânio Maria Martins Monteiro chegou ao Rio de Janeiro em 1959. Nas cadeiras da antiga Escola Nacional de Belas Artes (atual Escola de Belas Artes) e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU/UFRJ), acumulou conhecimento que ajudou a moldar sua verve artística.
Conforme aponta o pintor e professor Ronaldo do Rego Macedo na revista Arte & Ensaios, do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o trabalho de Ascânio se desenvolve tendo o “despojamento formal aliado ao barroquismo das tensões[1]“.
São opostos que vão e vem constantemente de forma poética.
As experimentações volumétricas com ripas de madeiras em módulos pintados de branco, organizadas em eixo, são bastante emblemáticas em sua produção artística. Muitas das peças criadas neste período chamam o espectador à interação, compondo diferentes possibilidades e arranjos.
A escolha da madeira como preferência não é à toa. Novamente cito Macedo. “Carne rija da árvore, transformada em ripa frágil, a madeira é mais do que suporte. Corporifica, digamos, a relação primária com a natureza.[2]” Afinal, “a raiz de madeira é a mesma de mater, matéria.”
Se na madeira, o trabalho de Ascânio organiza-se em progressões verticais e horizontais, expandindo-se para todos os lados, nas esculturas, por sua vez, o artista opta por acionar de maneira mais intensa o jogo de polaridades, o ritmo, uma eterna oposição entre a reta e a curva.
São opostos que vão e vem constantemente de forma poética. Em suma, o movimento perpassa as diferentes épocas e peças de Ascânio, fundindo-se à sua obra.
Da arquitetura à arte
No livro Ascânio MMM: Poética da Razão, o artista deixa clara a importância acadêmica na construção de sua trajetória. “Foi através da arquitetura que cheguei à arte”[3], conta.
Mas é difícil imaginar que entre a geometria descritiva e a matemática não tenha sido sua sensibilidade a compor a verdadeira essência, que evocou um olhar único para o jogo de luz e sombra proposto por suas esculturas brancas da década de 1970.
Espera-se que o visitante de Grid, em cartaz até o próximo dia 02 de outubro, consiga ser tocado por essa poética única, densa e impregnada de simbologia que permeia a carreira de Ascânio. Imperdível.
SERVIÇO | Grid – Ascânio MMM
Onde: Museu Oscar Niemeyer, R. Marechal Hermes, 999 | Centro Cívico, Curitiba/PR;
Quando: de 07/07 a 02/10, de terça a domingo, das 10h às 17h – entrada até 17h30;
Quanto: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada); às quartas-feiras, entrada gratuita.
Mais informações no site do MON clicando aqui.
–
[1] Ronaldo do Rego Macedo, em “Ascânio MMM e o claro enigma da luz”; Arte & Ensaio, setembro de 1981
[2] Ronaldo do Rego Macedo, em “Ascânio MMM e o claro enigma da luz”; Arte & Ensaio, setembro de 1981
[3] Paulo Herkenhoff, em Ascânio MMM: Poética da Razão
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.