Com mais de 70 milhões de visualizações no YouTube, “Apesh*t”, último clipe da dupla Beyoncé e Jay-Z, foi gravado dentro do Louvre e critica a falta de representatividade negra na arte clássica e nos ambientes que a dissonam.
A mescla do som, coreografia, discurso, takes rápidos e uma tour criada pelo próprio Louvre com as obras que aparecem no clipe, tornam contemporâneas obras milenares e quebram uma barreira institucionalizada que delimita um certo “espaço determinante” em diferentes manifestações artísticas.
O diretor do Louvre, Jean-Luc Martinez, disse em nota que o intuito da tour é, justamente, esse: ampliar o público. Com duração de 1h30, o roteiro, intitulado “JAY-Z and Beyoncé at the Louvre”, passa por 17 pontos em diferentes salas e corredores do museu.
Após a introdução, a primeira obra apresentada é “Winged Victory of Samothrace”, uma estátua grega feita em meados de 190 a.C., provavelmente como oferenda aos deuses em uma vitória naval. As cenas das dançarinas na frente desta estátua ao longo do clipe são o ponto alto de uma coreografia simples, mas elegante.
O videoclipe torna contemporâneas obras milenares e quebra uma barreira institucionalizada.
Passando por “Madonna of the Green Cushion”, “Solario” e “Pietà”, de Rosso Fiorentino, o quarto ponto é “Mona Lisa”.
Certamente, uma das artes mais icônicas da história, a renomada criação de Leonardo da Vinci é protagonista da primeira aparição de Beyoncé e Jay-Z e também é a obra que encerra o clipe.
Misteriosa e questionável, “Mona Lisa” é um retrato dos interesses renascentistas na teoria platônica que cria filas e horas de espera para minutos de contemplação dos mais de 30 mil visitantes diários do Louvre.
Na sequência, “The Wedding Feast at Cana”, de Veronese, “The Raft of the Medusa”, de Géricault, e “The Ghosts of Paolo and Francesca Appear to Dante and Virgil”, de Scheffer, até chegar ao oitavo ponto, “Officer of the Chasseurs Commanding a Charge”. Pintado em 1812, quando Géricault tinha apenas 20 anos, essa obra do Romantismo tem incríveis 3,49 m x 2,66 m. No clipe, após um close no olho do cavalo seguido de um corte para o quadro completo, Jay-Z faz uma releitura da obra em um contexto contemporâneo e quase avulso ao restante do clipe:
Depois de quatro obras de David, “Ceiling of the Galerie d’Apollon”, “Vênus de Milo”, “Roman copy of Hermes Fastening his Sandal after Lysippos” e “Great Sphinx of Tanis”, o tour se encerra com “Portrait of a Black Woman”, de Marie-Guillemine Benoist. A obra, pela explicação do próprio Louvre, é “a expressão grave, a pose calma e o seio nu dão ao modelo anônimo a nobreza de uma alegoria – talvez da escravidão, recentemente abolida”, o que dialoga totalmente com a crítica trazida no clipe.
“Apesh*t”, dirigido por Ricky Saiz, é a ponte entre a arte clássica e o pop. Se trata de um videoclipe potente, bem coreografado e esteticamente interessante, que gerou a criação de um tour exclusivo no Louvre.
“Apesh*t” faz parte do álbum Everything is love, lançado no mês passado e que ocupou o Top 5 da Billboard 200 por duas semanas. Essa foi a segunda vez que o Louvre fez esse tipo de ação, a primeira foi com Will.i.am, em 2016 (assista ao clipe aqui e confira os quadros da tour aqui).
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