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O jornalismo televisivo perante a tarefa de dizer o indizível

Os desafios da cobertura de fatos trágicos e a tensão entre o discurso mediador do jornalismo e a voz das fontes especializadas da ciência.

porMaura Martins
16 de novembro de 2015
em Televisão
A A
Bataclan atentado Paris

Reportagem da TV Globo sobre os atentados em Paris. Imagem: TV Globo/Reprodução.

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Frente às tragédias, o jornalismo televisivo se vê pressionado a uma árdua tarefa: manter viva a premissa de atualidade e de tempo real deste veículo, trazendo de forma ágil conteúdos, imagens e respostas ao espectador em relação àquilo que transcorre no mundo. Em resumo, cabe à televisão achar o que dizer sobre o indizível, ponderar o imponderável, apontar alguma possível resposta ao que ainda se levará muito tempo para compreender (se é que algum dia isso ocorrerá).

Neste aspecto, as evoluções tecnológicas vêm ao encontro desta vocação televisiva. As emissoras têm tirado proveito dos diversos dispositivos que hoje possibilitam imagens muito rápidas, geradas em todos os lugares (e não apenas pelas mãos e olhos dos jornalistas, como bem sabemos), transmissões muito velozes em qualquer ponto do mundo, além de fazer uso de vários recursos didáticos criados por softwares. O Jornal Nacional, por exemplo, iniciou sua edição de sábado (14) tratando da tragédia em Paris (portanto, um dia após o ocorrido) com um arrojado mapa criado com o Google Earth que “viajava” entre os pontos acometidos pelos ataques terroristas. Também exibiu uma animação em 3D que tentava reconstituir o que se passou dentro da casa de shows Bataclan.

No atual panorama de onipresença de telas e câmeras, tudo, em princípio, tem algum registro e encontra logo um caminho para chegar até os telejornais. É interessante ver que as emissoras assumem prontamente que o testemunho, ou seja, a experiência pulsante daquele que viu e viveu um acontecimento, é tão relevante quanto a leitura que será feita pelos próprios profissionais de jornalismo. Na cobertura desta tragédia, isto abriu margem que as emissoras entrevistassem, por exemplo, brasileiros que desciam de voos de Paris e que nada de muito importante tinham a testemunhar, ou para que jogadoras brasileiras do time Paris Saint-Germain fossem interrogadas pela Record sobre previsões quanto ao futuro da vida na França – obviamente, sem que tivessem qualquer legitimidade, nem tempo hábil, para ponderar sobre isto.

Em sua essência, o jornalismo é mediação, ou seja, uma instituição que, por meio dos seus diversos mecanismos, busca levar à população um relato translúcido sobre os fatos do mundo, o quão mais próximo do real for possível.

Assim, as coberturas contemporâneas têm o desafio de mesclar a “tradução” jornalística e o relato supostamente mais vívido daquele que sentiu no corpo o fato narrado. Vejamos novamente a cobertura do Jornal Nacional, que mistura (com sucesso) os registros de diversos dispositivos: exibe o exato momento em que no Stade de France se ouve as primeiras explosões com as imagens das câmeras, mas deixa claro que as avançadas máquinas das emissoras, com seus registros belos e límpidos, não conseguiram capturar a essência do acontecimento, do caos que se prenunciava em Paris naquele instante. Esta tarefa coube às imagens dos celulares das pessoas que testemunharam o fato. Conforme diz a repórter, ao anunciar a imagem de um homem que registrou a correria do lado de fora do estádio, aquele cidadão “gravou o desespero com o telefone celular”. A captura da pessoa comum, portanto, é da emoção, do fato bruto, em contraposição ao fato “lapidado” pelo jornalismo.

 A fala dos especialistas

De todo modo, este texto não pretende centralizar nem esgotar a discussão sobre a cobertura das tragédias, para não correr o risco da leviandade eventual trazida pelo fetiche da rapidez que aqui se tenta desconstruir. A ideia é pinçar um recurso – certamente não exclusivo a este tipo de cobertura – que é a busca de fontes especializadas da ciência e que estejam mais autorizadas que o jornalista a falar sobre o que ocorre no mundo.

Em sua essência, o jornalismo é mediação, ou seja, uma instituição que, por meio dos seus diversos mecanismos, busca levar à população um relato translúcido sobre os fatos do mundo, o quão mais próximo do real for possível. Isto, sem dúvida, pertence ao campo do ideal – pois é claro que há muito tempo já se compreendeu que o jornalismo é feito por indivíduos que imprimem inevitavelmente sua subjetividade quanto àquilo que veem, por empresas que impõem suas lógicas, que a ideia de uma transposição transparente do real é impregnada de interesses capitalistas, etc. Nesta busca pela transparência dos fatos, é preciso ouvir aqueles que, a princípio, teriam mais competência para falar sobre o mundo. Assim, muitas emissoras correram prontamente atrás de alguém que pudesse significar a tragédia – tal como o É de Casa, da Rede Globo, que abriu a edição no sábado (14) com a análise de um professor de Relações Internacionais da PUC-RJ. A necessidade de buscar fontes especializadas e de falar algo com urgência sobre a tragédia abriu margem para uma certa preguiça coletiva nas emissoras, como o fato de um mesmo cientista político ter sido entrevistado quatro vezes por diferentes canais.

Não é nada exatamente novo, é bom lembrar, que o jornalismo recorra rapidamente a essas fontes especializadas. Mas é interessante observar certos movimentos no jornalismo televisivo que revelam um certo dilema entre o que a instituição jornalística pode ou deve dizer versus a qualidade e a legitimidade da voz dos especialistas. Explico: chamou-me a atenção uma reportagem veiculada há algumas semanas no programa Fantástico sobre um fato muito pertinente à grande parte da população brasileira, que é a polêmica acerca da fosfoetanolamina, medicamento inventado por um professor da USP e que supostamente seria capaz de curar o câncer (veja aqui a reportagem).

A veiculação de matérias sobre descobertas científicas é sempre questão muito delicada, pois mexe com temas urgentes nas vidas de muitas pessoas. O que me chamou a atenção no caso da matéria do Fantástico foi o tom. Ao invés de ser feita por algum repórter, a reportagem é inteiramente narrada pelo médico Drauzio Varella, que é oncologista (ou seja, especialista em câncer) e empresta sua reputação para assegurar veemente que não dá para confiar no tal remédio. “Nesta semana, quase todos os meus pacientes me perguntaram sobre essa droga. Cuidado. Estes comprimidos que vão num frasco sem bula têm enganado muita gente. Vamos entender o que se passa por trás desta pílula mágica”. Todo o caminho percorrido pela narrativa da reportagem, enfocando sobre os trâmites das descobertas científicas na medicina, serve para reiterar a posição enfática do médico.

A matéria do doutor Drauzio Varella sobre a fosfoetanolamina claramente se situa próxima ao jornalismo (pois se utiliza de todos os veículos típicos de uma reportagem televisiva), mas assumidamente abre mão dos recursos pressupostos à profissão para atingir a tal premissa de transparência do fato – como, por exemplo, ouvir vários outros especialistas, demais envolvidos na história, pacientes que supostamente melhoraram com a substância. Parece-me que, de alguma forma, o tom de mediação e ponderação do jornalismo tem sido deixado de lado pelos veículos em busca de falas com mais credibilidade que a própria instituição jornalística. É algo a se pensar – sobre o que se perde ou o que se ganha com isso.

(Para finalizar: frente a esta premissa do jornalismo enquanto instituição a serviço da verdade, é urgente a reflexão sobre o episódio envolvendo o jornalista Sidney Rezende, demitido da GloboNews, emissora na qual trabalhava desde 1997. Coincidentemente, sua demissão ocorreu um dia depois de postar em seu blog um texto que funcionava como uma espécie de denúncia quanto à parcialidade da cobertura das emissoras sobre a fatos relativos ao governo. Leia sobre o episódio aqui.)

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Tags: Ataques em Pariscobertura de tragédiaDrauzio Varellaé de casaFantásticoJornal NacionalJornalismojornalismo televisivoParisRede GloboRede RecordTelevisãotragédiaTragédia em Paris

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