Lançado em 2017, PopStar é mais um programa a tirar proveito da febre de shows de calouros que povoa hoje praticamente todos os canais. Na Rede Globo, funciona quase como um subproduto do The Voice Brasil, a atração principal dessa categoria, e se aproxima (com menos graça) da proposta de Canta Comigo, a competição capitaneada por Gugu na Record.
No entanto, PopStar – que nada mais é que um show de calouros protagonizados por pessoas famosas que não ganham a vida como cantores – tem limitações impostas pela própria Globo. Explico: o programa peca justamente pelo problema de tratar pouco sobre música e mais sobre as próprias celebridades que ele enfoca. Claramente, os talentos musicais são fatores menores da atração; por isso mesmo, a avaliação feita por um júri técnico (montado por artistas da música, como Preta Gil, Dado Villa-Lobos e a dupla Marcos e Belutti, entre outros) sempre consolida notas altíssimas, mesmo quando a performance é ruim (como ocorre, por exemplo, em outros quadros como Show dos Famosos).
O programa peca justamente pelo problema de tratar pouco sobre música e mais sobre as próprias celebridades que ele enfoca. Claramente, os talentos musicais são fatores menores da atração.
A edição de 2018 volta com um elenco bem menos estelar que no ano anterior. Entre os escolhidos, há 12 nomes que envolvem atores, jornalista (a repórter Renata Capucci), uma modelo (Carol Trentini) e quatro humoristas (Fafy Siqueira, Eri Johnson, Fernando Caruso e Samantha Schmutz). É bastante nítido que há uma aposta em nomes ainda não muito conhecidos do grande público – como Lua Blanco, Malu Rodrigues e João Côrtes. A impressão, deste modo, é que a emissora revela preocupação em formar uma nova constelação de estrelas para ser explorada em seus outros programas.
Encabeçado por uma belíssima e carismática Tais Araújo (substituindo Fernanda Lima, apresentadora em 2017), o programa teve uma estreia irregular, intercalando apresentações mornas com bons momentos. As melhores partes talvez tenham sido a performance de Renata Capucci, que comoveu a todos – incluindo uma sensível Taís, de olhos marejados – ao cantar o clássico “Isn’t she lovely”, de Stevie Wonder, em homenagem à filha de cinco anos. Com poucas habilidades vocais para a música, Renata ainda foi extremamente cativante ao colocar-se com humildade como uma não-cantora: “usei minha voz durante a minha carreira toda, mas nunca para cantar”, contou, arrancando aplausos da plateia.
Outro destaque foi a apresentação do ator Jonathan Azevedo, que ficou famoso pelo papel na novela A Força do Querer. Jonathan levou todos os presentes às lágrimas com uma homenagem aos pais adotivos, ao cantar um medley de “Rap é compromisso”, do rapper Sabotage, e “Retalhos de cetim”, do cantor Benito di Paula, que compunha o corpo de jurados e se comoveu com a performance do ator.
Diria, por fim, que a presença de Benito no júri foi o grande momento da estreia. Ainda que tenha artistas de peso entre os jurados – como Vanessa da Matta e Júnior Lima -, as avaliações, conforme já comentei, pecam justamente pela sensação de serem mero protocolo, uma desculpa para que as estrelas da Globo sejam mais uma vez incensadas. Neste sentido, Benito di Paula, pouco reconhecido pelas novas gerações, agregou muito ao programa ao fazer o papel do “jurado mal-humorado” (como fazia, por exemplo, o saudoso Miranda no programa Ídolos, do SBT), virando uma espécie de luz dentro de grupo um tanto insípido. Misturou momentos de azedume (essenciais para o formato do programa) com relances de genuína comoção (como quando agradeceu, de forma muito emocionante, a Jonathan Azevedo por ter cantado a sua música).
Sério quase durante todo o programa (apenas a apresentação de Jonathan Azevedo pareceu amaciá-lo), Benito proferiu uma verdadeira aula de fruição musical em seus comentários. Cedeu “estrelas” (um ponto extra concedido pelos jurados aos melhores candidatos) a pouquíssimos competidores, e tecia pitacos precisos, ainda que amargos. Elogiou Jonathan exatamente pela sua “simplicidade” na música. Para a atriz Jeniffer Nascimento, que interpretou “Love on the top”, da Beyoncé, mandou uma percepção dura: “o mundo inteiro está cantando assim”, proferiu, sem papas na língua.
Com performances díspares (em especial, a baixa qualidade dos cantores/ humoristas, como Fernando Caruso e Eri Johnson) e performers marcantes, não há muito risco de PopStar dar errado. Resta torcermos, no entanto, que a avaliação musical siga mais aguda, seguindo a linha da percepção acurada de Benito de Paula.