O cineasta Ridley Scott tem uma carreira invejável. Sua filmografia inclui Thelma e Louise (1991), Gladiador (2000) e Falcão Negro em Perigo (2001), filmes pelos quais concorreu a estatueta de Oscar de melhor diretor – sendo derrotado em todas as ocasiões. Mas foram seus dois filmes de ficção científica, Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner – O Caçador de Androides (1982), que o tornaram um nome forte no cinema do gênero.
Em um perfil do diretor feito pelo jornal The Guardian, Ridley Scott foi chamado de Cecil B. DeMille da era digital, por sua capacidade de criar filmes influentes desde sua estreia, com Os Duelistas, de 1977, longa-metragem que lhe rendeu um troféu no Festival de Cannes como melhor primeira pbra. A comparação não é exagerada. Cecil é considerado um dos produtores/diretores mais bem-sucedidos comercialmente na história do cinema. E se Ridley não tem o “toque de Midas”, ao menos criou uma legião de fãs do seu trabalho – no qual, este que vos escreve se enquadra.
Todos esses fatores fazem com que seus lançamentos sejam marcados por muita expectativa. E Perdido em Marte, seu novo longa-metragem, que estreia hoje nos cinemas de todo Brasil, não foge à regra. Para quem havia se frustrado com seu Exôdo – Deuses e Reis (2014) e não se empolgado o suficiente com Prometheus (2012) e suas tantas camadas – complicadas para o público médio que está em busca de entretenimento puro -, Perdido em Marte oferece boas doses de sci-fi, mas com um aviso necessário: o filme está mais para Julio Verne do que para Philip K. Dick (autor da obra Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, que deu origem a Blade Runner).
Baseado na obra homônima de Andy Weir, Perdido em Marte começa com uma expedição de astronautas e cientistas norte-americanos no planeta vermelho que, em função de uma tempestade repentina, precisam interromper o trabalho e voltar imediatamente para a Terra. Durante o processo para retornarem à estação base, um dos cientistas, o botânico Mark Watney (Matt Damon), acaba sendo acertado por um pedaço de uma antena e é dado como morto. Seguindo os procedimentos padrões, a astronauta Melissa Lewis (Jessica Chastain) – que chefia a expedição – guia sua equipe para fora de Marte. Acontece que Watney sobrevive e, então, precisa encontrar mecanismos para sobreviver até que uma equipe de astronautas da Nasa possa resgatá-lo, o que demorará cerca de quatro anos.
Perdido em Marte oferece boas doses de sci-fi, mas com um aviso necessário: o filme está mais para Julio Verne do que para Philip K. Dick.
Em boa parte do longa-metragem acompanhamos o dia a dia de Watney, intercalado às dificuldades burocráticas do trabalho da Nasa – afinal, há sempre o risco de que incidentes como esse prejudiquem a imagem dela perante o povo norte-americano e o governo. Talvez seja isso o que torne o trabalho realizado por Ridley Scott em uma aventura próxima da literatura de Julio Verne. Perdido em Marte é uma espécie de jornada de desafios e superação. Dificilmente não acabamos torcendo para que o personagem de Matt Damon consiga alimento, supere as adversidades, use sua mente brilhante para desenvolver algum método de sobrevivência eficaz.
De maneira eficiente, Drew Goddard, roteirista responsável por adaptar a obra de Andy Weir, desenvolve uma trama que nos envolve, na torcida pelo botânico, na angústia pelo resultado das tentativas de comunicação, a ponto de quase arrancar um grito do espectador para o personagem, para que saiba que não está só.
Perdido em Marte está longe de ser brilhante, ou mesmo o melhor filme de Ridley Scott. Contudo, entretém, é bem dirigido – algumas sequências são bem características da obra do diretor – e conta com a boa atuação de Matt Damon, que mesmo cercado de outros bons nomes – como Jeff Daniels (The Newsroom) e Kate Mara (House of Cards) – domina o filme.
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