O longa Trumbo: Lista Negra, filme que estreou ontem nos cinemas nacionais, retrata a vida do roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston, de Breaking Bad) a partir da adaptação de sua biografia, escrita por Bruce Cook.
Dalton Trumbo foi o roteirista responsável por inúmeros sucessos da história do cinema norte-americano. Entre eles, destacam-se A Princesa e o Plebeu, Arenas Sangrentas e o épico Spartacus. Por alguns anos, foi conhecido como um dos “Dez de Hollywood”, uma “lista negra” com dez nomes de roteiristas banidos após se recusarem a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso norte-americano, que iniciou uma caça às bruxas após o final da Segunda Guerra Mundial em função do agravamento das relações entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética – período conhecido como Guerra Fria.
Filiado ao Partido Comunista desde 1943, Trumbo vê o endurecimento da maré anticomunista, que passa a identificar comunistas como espiões e traidores – e não apenas no cinema. Convocado a depor no Comitê, Trumbo acaba sendo preso por desacato, ficando encarcerado por um ano. Pior do que a prisão é ver que sua carreira e seu nome foram jogados na lama. Sem conseguir nenhum contrato para escrever um roteiro, sua vida financeira também desaba.
Trumbo era um homem com um ego imenso. Sua dificuldade em aceitar algo menos que o estrelato se confundia com a luta para que pudesse tornar a escrever um roteiro. Isso fez com que acumulasse desafetos pelo caminho (como o ator John Wayne e a atriz Hedda Hopper, interpretada pela sempre magnífica Helen Mirren), e que quase decretasse sua ruína definitiva.
Trumbo era um homem com um ego imenso. Sua dificuldade em aceitar algo menos que o estrelato se confundia com a luta para que pudesse tornar a escrever um roteiro.
É nesse momento que surgem dois personagens ímpares na vida do roteirista: a primeira é Cleo Trumbo (a impecável Diane Lane), esposa do Dalton, que entrega sua vida e seus esforços em favor do marido; a segunda é Frank King (o ótimo John Goodman), um produtor de filmes de segunda linha que contrata Trumbo para escrever e ajustar roteiros, com a condição de que Dalton não os assinasse. King e seu irmão são os responsáveis pela produção de Arenas Sangrentas, longa-metragem pelo qual Trumbo ganhou um Oscar de melhor história original (categoria extinta em 1956).
O enredo de Trumbo: Lista Negra acompanha a vida do roteirista até seu encontro com o Kirk Douglas e com o diretor Otto Preminger, responsáveis por romperem com o bloqueio e nomearem Trumbo como roteirista de suas obras (Spartacus e Exodus, respectivamente). Bryan Cranston emprestou um pouco do seu Walter White em Breaking Bad na construção do personagem, um homem terno e carinhoso, tanto com família e amigos, mas que só encontrava a realização sentado diante de uma máquina datilográfica. Cranston tem grande atuação, mas talvez não o suficiente para arrematar a estatueta de melhor ator no Oscar.
Vale destacar, ainda, a boa direção de Jay Roach (da comédia Os Candidatos), que conseguiu entregar um filme interessante, que acaba servindo como um pedido póstumo de desculpas a Dalton Trumbo, bem como uma viagem no tempo, permitindo que o espectador entre em contato com a Hollywood da chamada “Era de Ouro”.
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