S teven Spielberg, até muitos de seus detratores admitem, sabe tudo sobre fazer cinema. Com uma obra extensa, repleta de campeões de bilheterias, e algumas obras-primas, como Tubarão (1975), Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977) e E.T. – O Extraterrestre (1982), ele finalmente conseguiu o endosso da Academia de Hollywood em 1994, com A Lista de Schindler, que lhe deu os Oscars de melhor filme e direção. A estatueta de melhor diretor ele voltou a ganhar em 1999, com outro drama sobre a Segunda Guerra Mundial, O Resgate do Soldado Ryan – a de melhor filme foi para Shakespeare Apaixonado, de John Madden.
Às vésperas da eleição presidencial nos Estados Unidos, recomendo um dos melhores trabalhos de Spielberg nos últimos anos, o drama histórico Lincoln, de 2012, filme que deu ao irlandês Daniel Day-Lewis seu terceiro Oscar de melhor ator – as outras duas vieram por Meu Pé Esquerdo (1989) e Sangue Negro (2007).
O filme não é uma cinebiografia, e tampouco busca desvendar o homem por trás da figura mítica do presidente Abraham Lincoln (1809-1865), embora se ocupe de sua dimensão humana em alguns momentos muito significativos da trama.
O genial roteiro do também dramaturgo Tony Kuschner, autor da premiada peça Angels in America, centra seu foco nos últimos meses da vida do estadista norte-americano, período durante o qual ele fez uso de toda a sua habilidade política, e de seu talento inato no trato com as pessoas, para conseguir aprovar, no Congresso, a 13.ª emenda à Constituição, que aboliu a escravidão nos EUA e, em decorrência, pôs fim à Guerra Civil, sangrento confronto entre os estados do Norte e do Sul do país, travado entre 1861 e 1865.
O filme não é uma cinebiografia, e tampouco busca desvendar o homem por trás da figura mítica do presidente Abraham Lincoln (1809-1865), embora se ocupe de sua dimensão humana em alguns momentos muito significativos da trama.
Ao descrever o intrincado jogo de forças nos bastidores da Câmara dos Representantes, entabulado por Lincoln e seus aliados na busca, voto a voto, pela aprovação da emenda, Lincoln tece, ao mesmo tempo e sem pressa, um pulsante panorama da vida política nos Estados Unidos daquela época e um retrato tridimensional, complexo do presidente, vivido de maneira espetacular Day-Lewis, cujo desempenho é uma verdadeira obra de gênio.
Mas Day-Lewis não está sozinho. O elenco de apoio é extraordinário. Sally Field, também dona de duas estatuetas, brilha como a emocionalmente instável mulher de Lincoln, Mary Todd. Está indicada a melhor coadjuvante, assim como Tommy Lee Jones, excelente como o líder republicano radical Thaddeus Stevens.
Grande estadista, e uma figura complexa, Abraham Lincoln não é retratado pelo filme como um ser magnânimo, desprovido de defeitos, mas como um político hábil, comprometido com sua missão. Diante desse retrato, é inevitável pensar na pouca estatura de Donald Trump como estadista e ser humano. Vale rever o filme e comparar.
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