Clive Barker estava decepcionado no início de 1986. Apesar de ter colaborado como roteirista em Subterrâneos – A Revolta dos Mutantes (1985) e Monster – A Ressurreição do Mal (1986), adaptado de seus contos, os dois filmes não expressavam adequadamente sua obra. Pouco do que havia escrito estava efetivamente na tela. Eram títulos baratos, inconsistentes e sem muito apelo visual. Se quisesse ver seu trabalho com fidelidade no cinema, ele mesmo deveria comandar o projeto.
Com isso em mente, o romancista, aclamado como “o futuro do horror” por Stephen King, começou a elaborar em uma história em que não tivesse dificuldades nas filmagens. Como mostra o extenso documentário Leviathan: The Story of Hellraiser and Hellbound: Hellraiser II, de Kevin McDonagh, a ideia era ter poucos personagens em uma cenário menor, emulando algumas das produções que encenava com uma companhia de teatro tempos antes da fama.
A decisão de tornar o rosto de pregos como um chamariz de público deu certo. Com o tempo, as sequências gradativamente expandiram o espaço do personagem até que ele se tornasse sinônimo da franquia.
Nascia The Hellbound Heart, noveleta que deu origem a Hellraiser: Renascido do Inferno (1987). O filme, todos sabem, se tornou um dos pontos altos do horror na prolífera década de 1980. Muito disso se deve ao visual de Pinhead, estrela das capas de VHS da seção de terror das videolocadoras nos anos noventa e membro honorário do panteão de grandes monstros da sétima arte.
Como teve liberdade para escolher a própria equipe de apoio, o diretor chamou para o chapa Doug Bradley para viver o vilão. O ator havia trabalhado em espetáculos escritos por Barker. O papel era pequeno e não deveria tirar o foco do enredo principal, focado no relacionamento entre Frank e Julia. Os dois são cunhados que, no passado, tiveram um caso e se reaproximam por meio de assassinatos após ele ter o corpo dilacerado e ficar preso entre diferentes dimensões.
No livro, publicado pela primeira vez no Brasil (com acabamento de luxo) pela editora Darkside em 2015, Pinhead não é nomeado. O personagem é feminino e praticamente não há detalhes de sua aparência.
O visual usado no filme foi bolado posteriormente e definido nos testes de maquiagem. A única premissa da equipe de produção era se afastar das tendências do gênero no período, como as máscaras dos slashers ou a cara queimada de Freddy Krueger.
Em Hellraiser: Renascido do Inferno, quem espera ver muito da cara de pregos de Bradley pode se decepcionar. Além de dividir a cena com outras criaturas, ele quase não tem diálogo e não mata ninguém. Sua ameaça é muito mais implícita para o público do que a do meio-humano Frank, que se alimenta das entranhas de inocentes.
A ascensão de Pinhead como astro de Hellraiser foi uma decisão de marketing. Parte do elenco até ficou surpresa com a aparição do ator com destaque nos materiais promocionais. No documentário de McDonagh, um publicitário responsável pela campanha de divulgação defende a escolha pelo apelo comercial da imagem – algo bem discutível se lembrarmos que a produção é cheia de seres com aparências incríveis.
A decisão de tornar o rosto de pregos como um chamariz de público deu certo. Com o tempo, as sequências gradativamente expandiram o espaço do personagem até que ele se tornasse sinônimo da franquia. Barker, por sua vez, se aventurou outras duas vezes na direção cinematográfica, mas nunca conseguiu repetir o êxito dessa criação.